O sábado

91 15 3
                                    

Ao acordar no dia seguinte, Aisha estava com uma revolta muito grande em sua mente. Ela sentia que o tratamento dado por Caivan no dia anterior havia sido extremamente injusto e essa sensação a provocou uma certa ira, que aguçada pelo seu período hormonal, impactou ainda mais nos seus sentimentos.

Ela iniciou o dia fazendo as mesmas atividades dos anteriores, quando depois de algumas horas, todos estavam presentes na cozinha daquela casa.

Caivan imediatamente a cumprimentou e foi seguido por Lina. Aisha os respondeu com cordialidade, mas tinha em seus pensamentos que não aceitaria que ele agisse com ela de forma desaforada como fez nos dias anteriores.

Tentando apaziguar o clima, Caivan a questionou:

- Está melhor hoje Aisha?

Ela sentiu na questão realizada por Caivan que ele estava a colocar a culpa nela pela briga que tiveram nos dias anteriores e respondeu de forma direta:

- Eu nunca estive pior Caivan. Toda a irritação que tive nesses dias foi por sua causa.

- Aisha, desse jeito fica um pouco difícil te ajudar.

- Me ajudar Caivan? Você não teria como fazer isso. O meu maior desejo você não tem como me ajudar a alcançá-lo no momento. Responde Aisha com um semblante demonstrando irritação.

- Tudo bem Aisha. Qual é o seu maior desejo? Questiona Caivan curioso.

- Retornar para o Ocidente. Diz Aisha de forma curta e grossa.

Caivan fica perplexo com a fala de Aisha. O seu semblante com o passar dos segundos muda de um estado de perplexidade para preocupação, quando ele responde:

- Tem certeza que é isso que você quer Aisha?

- Tenho certeza como nunca tive em minha vida.

- Você sabe que isso é impossível no momento né?

- O impossível é só questão de opinião Caivan. Já aconteceu coisas que pareciam impossíveis comigo antes.

O semblante de Caivan novamente fica envolto de um certo ódio. Aisha o afrontava sem nenhum pudor, quando ele diz:

- As vezes eu acho que o seu pai estava certo. Você quando fica desse jeito fica insuportável Aisha.

Aquela fala aumenta ainda mais o ódio dela. Aisha nunca havia recebido uma resposta tão avassaladora de Caivan. Aquela fala tinha muitos simbolismos pesados para ela. Então ela questiona em tom ríspido:

- O que você está dizendo?

Lina fica perplexa a observar a discussão calorosa dos dois. Eles aumentavam o tom a cada fala, o que a deixava ainda mais perplexa com a coragem de Aisha. Naquelas terras ela nunca tinha visto alguém sequer pensar em afrontar um homem daquela forma. Por muito menos, na casa em que ficou, os homens deram surras terríveis nas mulheres que viviam lá.

Quando Caivan continua a sua fala:

- Isso mesmo que você ouviu Aisha. As vezes o seu pai poderia estar certo em agir de forma enérgica com você. Você não respeita ninguém.

- Eu não acredito que você está falando isso Caivan. Eu juro que não acredito. Como você tem coragem de dizer uma coisa dessas? Se eu fizesse aquilo que o meu pai queria, hoje você e sua família estariam mortos.

- E quem disse que talvez isso não fosse melhor Aisha? Você quer mudar o destino das coisas. Ninguém nunca sabe verdadeiramente o que é melhor nessa terra. Depois do que você fez, os meus pais morreram de um jeito talvez mais cruel do que poderia ocorrer naquelas terras.

- Então agora a culpa é minha por ter arriscado a minha vida para salvar a sua e a de seus pais? Aisha parecia não acreditar no que estava a ouvir de Caivan. A sua revolta naquela parte da conversa era impressionante, especialmente porque rememorava de tudo que passou devido a afronta que fez ao seu pai para salvar a família dele. A vontade dela, naquele momento, era pular em cima dele para agredi-lo, mas ela conseguiu se segurar. E então ela complementa a sua fala: - Como é que é isso Caivan? Questionou Aisha a gritar demonstrando ferocidade em sua voz, já chorando de revolta.

- Você com essas suas ações afrontosas retira qualquer pessoa do sério Aisha.

- Vá para o inferno Caivan!

Depois dessa fala ela simplesmente vira as costas e sai correndo para o seu quarto, chorando de forma descontrolada. Ela fecha a porta e a tranca, deitando em sua cama, chorando de forma tão alta que dava para ouvir em todos os ambientes daquela casa.

Caivan estava muito nervoso depois de mais essa afronta de sua esposa. Ela parecia mesmo ser alguém incontrolável. Pelo preconceito que tinha pela cultura ocidental, ele colocava a culpa no que ela viveu no exterior por agir daquela forma. Uma mulher daquelas terras jamais afrontaria um homem daquela forma.

Lina, com medo de tudo aquilo, prefere não dizer nada. Fica quieta a arrumar as coisas. Quando Caivan ordena que ela se arrume, pois eles iriam ao mercado, conforme haviam combinado anteriormente, mesmo que Aisha não fosse.

Em seu quarto, Aisha chorava compulsivamente, despejando parte do ódio que estava de seu esposo.

Como ele pode me culpar depois de tudo que fiz por ele e pela família dele? Eu quase morri para salvar a vida deles e ele me fala uma coisa dessas. Por culpa deles eu apanhei de forma severa. Depois tive que casar com Osnin e sofrer como nunca imaginei que sofreria em minha vida. E agora ele vem dizer que o meu pai estava certo em me castigar com aquela violência toda e me casar com Osnin. Eu tenho ódio de mim mesma por ter um dia acreditado em Caivan. Eu tenho ódio de mim mesma, por ter o amado algum dia. Eu tenho ódio de mim mesma, por ter ido parar naquelas terras por causa desse homem.

Caivan não merece o amor que depositei nele. Eu odeio Caivan com todas as minhas forças! Eu quero ir embora desse lugar. Eu preciso ligar para o meu pai. Eu preciso que ele me salve. Eu preciso ir embora daqui o mais rápido possível. Caivan não merece nada do que eu dei para ele. De hoje em diante tudo que ele terá é o meu ódio e minha indiferença. Talvez ele esteja certo. Eu deveria ter o deixado morrer, talvez assim eu não teria caído na burrice de ter retornado as minhas terras por esse amor idiota.

Casamento forçado e abusivo IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora