Aisha consegue se abrir

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Quanto mais se aproximava do Natal era perceptível que Aisha invés de demonstrar felicidade, pois aquela era uma data em que ela adorava, mais demonstrava tristeza. No dia da sua consulta a psicóloga ela demonstrou bastante vulnerabilidade, o que gerou preocupação a aquela profissional que comentou isso com Evelyn.

Segundo a psicóloga Aisha estava colocando novamente como sua responsabilidade o resgate de suas amigas na Síria, pois ela tinha um perfil que sempre se cobrou muito, colocando responsabilidades acima da média como suas.

A profissional disse que tentou intervir em meio ao diálogo, mas que foi muito difícil naquele contexto. Aisha não conseguia tirar de sua mente que deveria ter feito mais pelas suas amigas, conforme havia prometido.

- O que a senhora recomenda que façamos? Questionou Evelyn.

- Claramente pelo semblante dela, Aisha não está dormindo há dias. Não posso dizer muito sobre o que ela disse, pois isso faz parte do segredo profissional. Mas, sugiro muito que a senhora a leve ao psiquiatra para que ele indique remédios que possam ajudar ela a controlar a sua ansiedade. A piora dela da semana passada para essa foi muito grande e estou muito preocupada.

- Nós também estamos doutora. Está muito difícil controlar essa situação. Por mais que falamos com ela que há pessoas lá em busca de suas amigas, ela coloca como se fosse responsabilidade dela que Lina e Nádia não foram encontradas ainda.

- A situação de Aisha foi muito traumática. Sair de uma terra deixando pessoas que ama correndo risco de morrer é algo muito delicado. Temos que entender o que ela sente. Na visão dela, aquelas pessoas trocaram as suas vidas e a sua segurança pela dela. E isso traz um peso enorme em sua consciência, pois para Aisha, que sempre se cobrou muito, por tudo, inclusive pela história de vida dela e sua relação com o seu pai, ela não retribuiu até o momento o que Nádia e Lina fizeram por ela. E o pior, ao não fazer isso, na sua cabeça ela quebrou uma promessa que fez as duas.

- Mas, ela não tinha condições de fazer nada. Nós falamos isso para ela. Quando chegou aqui ela estava prestes a ganhar o bebê. A cidade de Raqqa era dominado pelo EI. Ela teve problemas psicológicos. O que ela poderia fazer?

- Nós entendemos isso, o difícil é isso entrar na cabeça dela. Com o nível de ansiedade que ela está no momento é difícil ela organizar as ideias e, por isso, as vezes pensa um pouco de forma irracional, não levando esses pontos em consideração. Por isso a minha recomendação é levá-la até o psiquiatra. Um remédio pode quimicamente a deixar mais tranquila e a partir daí, ela pode organizar as suas ideias, compreender o seu contexto daquele momento e entender que as coisas precisam de tempo para se resolver.

- A levaremos a ele o mais rápido possível. Muito obrigada senhora.

- Qualquer coisa estou à disposição. Se precisar de mim, pode entrar em contato.

- Contaremos sim com a sua ajuda. Mais uma vez muito obrigada.

No caminho para casa, Aisha não parava de chorar. Evelyn questionou para ela o que estava sentindo:

- Por favor minha filha, me conte um pouco o que está sentindo?

- Impotência mãe. Não estou conseguindo organizar os meus pensamentos segundo a doutora e isso está acabando comigo por dentro. Sinto um aperto no coração. Sinto medo de que algo tenha acontecido com Lina e com Nádia. Sinto que era uma responsabilidade minha ter as ajudado e não fiz nada nesse sentido.

- Minha filha, você lembra do contexto que estava quando chegou aqui?

- Eu lembro mãe. A psicóloga me disse isso. Que tenho que levar em consideração o contexto daquele momento. Mas, a minha cabeça está muito confusa e acelerada. Ao mesmo tempo em que relembro do contexto, que estava grávida, que só de entrar na internet minha cabeça entrou em parafuso, que talvez não tinha condições mesmo de tentar fazer nada para ajudar as minhas amigas. Por outro lado, vem uma angústia enorme e uma pressão em salvá-las do terror que pode ser estar nas mãos daquele homem terrível que é o Omar. Eu fiquei nas mãos dele poucos dias mãe, tinha momentos que eu torcia para morrer. Imagine o que é ficar nas mãos desse homem por meses.

Casamento forçado e abusivo IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora