Caivan demorou algum tempo para se recuperar. Ele chorava de uma forma muito intensa. Aisha nunca viu alguém sentir tanta emoção, mas era compreensível, depois de tudo aquilo acontecer e ele conseguir desabafar aqueles traumas.
O seu esposo ficou pelo menos uns quinze minutos a chorar, quando retomou o seu fôlego e disse:
- Eu queria muito fazer o que os meus pais fizeram. Queria mesmo. Mas, o meu coração não pedia para fazer aquilo naquele momento. Eu queria vingança. O ódio tomou conta de mim Aisha. Acho que a decisão correta foi a que não tomei.
Depois dessa fala, Aisha ficou um pouco perplexa e curiosa para saber o que havia ocorrido em seguida. Quando Caivan continuou o relato:
Ao ver os meus pais deitados e mortos naquele chão, mesmo sem forças, eu olhei para o rosto de cada um daqueles homens que estavam naquela sala. Eram seis. Eu prometi naquele instante que faria de tudo para me vingar de todos eles. Até aquele momento eu julgava que o ódio e a vingança era algo ruim. Mas, depois de tudo aquilo, fiquei cego e tudo que tomou conta do meu coração foi um ódio mortal daqueles homens.
Me recordo que o chefe daqueles homens chegou para mim sorrindo, dizendo:
- Agora temos dois infiéis a menos no mundo. Vamos ver se o terceiro quer ter o mesmo destino.
O senhor que havia provocado a minha mãe, foi ainda pior e disse:
- Eu queria tanto que a sua mãe se convertesse. Iria mostrar para ela que deve respeitar os homens dessas terras. Parece que ela não sabia muito bem o significado disso. Me afrontou e tudo mais. Mas, agora ela sabe que não é bom afrontar a nossa cultura e os nossos homens lá no inferno onde certamente essa infiel foi parar.
Até aquele momento eu estava com dúvidas do que faria. Mas, depois da fala daquele homem o meu ódio e a minha vontade de vingar foi tão grande, que decidi. Eu precisava viver. Aqueles homens tinham que pagar por tudo que eles fizeram contra mim e os meus pais.
Foi quando aquele líder me questionou:
- Vai se converter ou vai querer ter o mesmo destino dos seus pais?
Eu até pensei por um instante na fala do meu pai e os ensinamentos que ele havia me deixado. Pensei nas últimas palavras de minha mãe, mas o que faltou não foi coragem. Eu teria coragem de dizer a eles que não me converteria. O que sobrou foi ódio e vontade de vingança. Eu nunca imaginei que esse sentimento pudesse ser tão forte. E que ele poderia me dominar daquela forma.
Foi então que tomei a decisão:
- Eu me converto senhor. Eu me converto e quero ser um religioso muito obediente as regras e a tradição dos senhores. Não quero ser infiel como os meus pais foram. Eu quero viver e ser fiel como os senhores demonstram ser.
- O meu coração ficou partido quando pronunciei aquelas palavras em frente ao corpo de meus pais. Mas, senti que tinha que fazer aquilo. Eu precisava estar vivo para que aqueles homens pagassem pelo que fizeram. Eu não aceitaria, após aquilo, que eles ou qualquer outro homem que conheço fizesse algo tão terrível contra alguém pelo simples fato de não aceitarem que eles tenham as suas crenças. Me vingar daqueles homens se tornou uma obsessão e proteger aqueles que tem religião minoritária nessas terras também Aisha.
Após aquele relato emocionado de Caivan, Aisha não sabia muito bem o que dizer. Tudo que ela disse foi que sentia muito por tudo aquilo ter ocorrido com ele e sua família e que agora entendia o porque ele evitava em falar sobre aquele assunto. Ela imaginou que fosse mesmo muito doloroso ter que rememorar uma tragédia e uma perda tão grande.
Vendo que Caivan estava muito cansado e emocionado, ela propôs que eles tentassem dormir naquela noite. Que depois ela queria saber mais detalhes do que aconteceu na sua vida após aqueles fatos. Muito cansado emocionalmente o seu esposo concordou com a proposta de Aisha.
Mas, dormir depois de tamanha emoção não foi fácil para nenhum dos dois. Aisha olhava para ele e Caivan tinha um olhar vazio. Ela por algumas vezes o abraçou durante aquela noite e o beijou, demonstrando compaixão. Aisha chegou a dizer por mais algumas vezes que sentia muito pela morte de seus pais, reafirmando em seguida que estava muito feliz por eles estarem juntos para tentar animar um pouco mais o seu esposo.
Depois de algumas horas, eles, cansados, conseguiram pegar no sono. Durante aquela noite Aisha chegou a ter alguns pesadelos com o relato de Caivan. Na sua mente vinham as imagens descritas por seu esposo com muita clareza, em uma realidade impressionante. Em um desses pesadelos, depois de visualizar os tiros que a mãe de Caivan tomou, ela desesperada acordou.
- Se no pesadelo essa cena já é terrível, imagina presenciar algo assim no mundo real com a sua mãe. Disse ela baixinho, enquanto viu o seu esposo a dormir deitado ao seu lado. Naquela madrugada Aisha não conseguiu dormir mais. Ela chorou durante algum tempo, antes que Caivan finalmente despertasse.
Ao sentir a fragilidade do seu esposo ao se abrir e contar aquela história, Aisha aumentou a sua empatia e o seu amor por ele, relevando em sua mente as coisas que ele havia feito que a levaram a situação em que se encontra no momento. O amor dela por Caivan estava de volta com toda a força. Ela queria cuidar de Caivan da melhor forma possível para que ele não sofresse mais.
- E eu que achei que a minha vida havia sido difícil. Pensou ela, enquanto ele terminava de limpar os seus olhos, após despertar.
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Casamento forçado e abusivo III
Mystère / ThrillerDepois de visitar o seu país de origem e encontrar com o grande amor de sua infância Aisha tenta retornar para a Inglaterra, mas algo acontece no aeroporto e o seu destino se torna um mistério. Acompanhe a terceira a última parte dessa obra e descub...