A última passagem

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A medida que diminuíam os carros a sua frente, maior ficava a ansiedade daqueles dois ocupantes. Se a busca criteriosa estava sendo realizada para que eles fossem capturados, certamente isso iria acontecer, pois não havia mais como eles retornarem para buscar outro caminho. Se tomassem qualquer ação naquele momento, que não fosse aguardar na fila e passarem pela vistoria, seriam perseguidos e presos.

Nazdan chegou a tocar nas mãos de Aisha para lhe passar força e confiança e notou que as mãos dela estavam frias e trêmulas. Aisha naquele momento passava por uma tensão ainda maior, pois além de sua vida tinha que salvar também a vida do seu filho que estava em seu ventre. Ela não imaginava, depois de ver a maldade que Omar a tratou naquela prisão, que ele teria qualquer piedade por ela estar grávida do seu grande desafeto. Certamente ele a torturaria sem levar isso em consideração e tudo isso a causava um terror ainda maior.

Faltando apenas nove carros para passar por aquela barreira, um dos soldados do exército, muito conhecido de Caivan notou que era o carro daquele comandante que estava na fila. Então ele disse que a fila estava muito grande e que atenderia e liberaria as pessoas da fila, em um processo de adiantamento das vistorias, para reduzi-la. Os policiais e membros do exército que estavam na barreira não se opuseram a proposta dele e ele foi liberando os carros. A cada três carros ele vistoriava um para adiantar e logo depois avisava aos homens da barreira que o carro estava liberado.

Logo ele chegou no carro de Aisha, enquanto outros dois que estavam a frente eram vistoriados e disse:

- Eu sinto muito pelo que aconteceu com o seu marido senhora Aisha. Vocês precisam tomar muito cuidado. Recebemos a mensagem de Omar que vocês não poderiam sair dos limites do regime. Mas, eu vou autorizar que vocês passem. O senhor Caivan era um grande homem e foi meu comandante em batalhas importantes, não vou deixar que capturem a sua esposa. Mas, quero que fiquem atentos, pois podem ser feitas barreiras provisórias mais pra frente. Se for possível não parem. Sigam, furem a barreira se for necessário. Uma vez que cruzarem os limites do regime eles não terão coragem de segui-los, mas se pararem vocês, eles vão prendê-los. Eu sinto muito pela sua perda senhora Aisha. Caivan falava da senhora e da primeira esposa o tempo todo para os mais próximos, fui muito próximo dele e estou muito triste com a sua partida. Disse aquele oficial, quando Aisha e Nazdan o agradeceram. Ele então grita para os demais soldados que estavam a fazer aquele bloqueio que o carro deles estava liberado.

Nazdan passou por aquela barreira devagar para não levantar suspeitas. Como Aisha estava completamente coberta, com as roupas apropriadas para sair na rua, não foi possível reconhecê-la e como ninguém conhecia também aquele motorista ou o carro, eles conseguiram passar depois da estratégia montada por aquele militar, que, muito amigo de Caivan, reconheceu o carro do ex-comandante.

Aliviados, Aisha e Nazdan respiraram fundo. Quando ele disse:

- Ainda bem que Caivan era amado por todos! Se não fosse esse homem, poderíamos estar presos Aisha.

- Ele era um homem muito bom Nazdan. Nós vamos conseguir sair dessa situação.

- Espero que não haja mais nenhuma barreira pela frente. Caso tenha, você vai precisar abaixar. Como esse oficial disse, não poderemos parar, temos que furar o bloqueio, pois se nos param, descobrirão quem somos e poderemos ser presos.

- Tudo bem senhor Nazdan. Estarei preparada para agir dessa forma.

Apenas quinze minutos, eles encontraram dois carros militares ao lado da estrada, um ao lado direito da pista e outro no lado contrário, deixando apenas uma passagem ao meio, com os militares pedindo para eles reduzirem a velocidade. O coração de ambos acelerou intensamente.

Dentro do carro, Nazdan disse para Aisha:

- Senhora, por favor, retire o sinto de segurança discretamente, pois, precisará se abaixar para se proteger.

Assustada, Aisha fez esse procedimento e Nazdan também, enquanto se aproximava daquela barreira, naquele ambiente escuro da estrada, com apenas lanternas apontadas para o seu carro e o farol dos veículos dos militares iluminando parte da estrada, com aquele motorista dirigindo cada vez mais devagar, enquanto via as armas nas mãos daqueles militares prontas para atirar.

Em seguida ele disse para Aisha:

- Nós vamos furar o bloqueio. Eu preciso que a senhora se abaixe imediatamente, pois eles vão atirar contra nós. Que o magnífico nos abençoe!

Nazdan espertamente reduziu a velocidade, demonstrando que iria parar o carro quando chegasse nas proximidades da barreira. Mas, quando chegou bem perto dos primeiros soldados, ele acelerou aquele carro, o jogando para o lado de um dos grupos de policiais que tiveram que pular para fora da pista para não serem atingidos, ele retornou o carro para o centro da pista e passou por aqueles dois carros, furando o bloqueio.

Imediatamente, ele e Aisha abaixaram as suas cabeças, pois imaginavam que eles iriam atirar. Nazdan teve que abaixar um pouco menos, pois precisava enxergar a pista e para onde tinha que guiar aquele carro. Então, tudo que foi escutado foram rajadas de tiros de metralhadora sobre aquele carros e vidros a espedaçar.

Nesse instante Aisha deu um grito bem alto, pois tinha sentido o seu braço a queimar. Nazdan preocupado, insistiu para que ela ficasse abaixada e chorando de dor, ela continuou na mesma posição que estava, desesperada pelo ardor que estava a sentir em seu braço. Os tiros os acompanharam até que eles saíssem das proximidades daquela barreira.

Acelerando muito, um pouco abaixado Nazdan conseguiu controlar aquele carro. Os militares chegaram a ligar os seus veículos e partir em em uma perseguição, mas com um carro muito veloz, Nazdan conseguiu manter uma distância considerável daqueles militares até que eles chegaram a fronteira com os exércitos inimigos e foi notado que eles deram meia volta para retornar as áreas dominadas pelo regime.

Nesse instante, quando sentiu que a adrenalina abaixou um pouco, ele questionou para Aisha:

- Está tudo bem aí senhora?

- Estou sentindo uma queimação muito forte em meu braço senhor Nazdan.

Então ele ascendeu a luz interna do carro e Aisha viu que o tiro pegou em seu braço de raspão, ficando mais tranquila.

- Está tudo bem sim senhor Nazdan, felizmente o tiro que me atingiu pegou de raspão e fez apenas um risco em meu braço. Queimou muito e está ardendo bastante, mas posso suportar. Minha nossa, foi por pouco, eles atiraram muito em nós. Quebraram os para-brisas. Atingiram a lataria do carro. Mas, felizmente conseguimos furar o bloqueio e sair bem.

- Que bom que está tudo bem senhora. Acho que agora podemos seguir viagem em paz. Não seremos mais infortunados, pelo menos pelos membros do EI. Atravessamos a fronteira. Caso nos parem, podemos conversar. Posso dizer que estou a fugir do Estado Islâmico por ser de um grupo perseguido e que preciso chegar até algumas das importantes cidades do país para procurar ajuda.

Após aquela fala de Nazdan, Aisha sentiu um certo alívio. A sua vida ficou por um fio, mas felizmente, eles estavam fora do limite do regime e rumo ao litoral para buscar ajuda. 

Casamento forçado e abusivo IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora