Capítulo 04

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Poucas vezes havia mendigado na rua, geralmente sobrevivíamos através de reciclagem. Juntava pela cidade toda materiais para vender, principalmente as latinhas que era o que mais dava dinheiro por quilo.

Porém nem sempre conseguia juntar dinheiro suficiente, e acabava por mendigar. Pedindo dinheiro a quem passava na rua, ou nos carros. Por um tempo fiz malabarismo em semáforos para tentar ganhar um dinheiro extra. Porém algumas vezes não havia jeito, voltava para casa sem nada, e aquilo me corroía por dentro.

Sentei-me no sofá quebrado, e fitei Julia de joelhos sobre a cadeira, apoiando-se na mesa e comendo aquele pão como se fosse a última refeição de sua vida. E mesmo com aquela vida difícil Julia era feliz, alegre. E muitas vezes quando eu estava para baixo era ela quem melhorava meu humor dizendo-me que tudo iria melhorar.

Levantei-me e fui até o quarto. Nossa pequena casa de madeira era constituída de duas peças e um pequeno banheiro, uma das peças era a sala e a cozinha, nela continha um fogão velho, uma geladeira que mal funcionava, uma mesa com duas cadeiras - todas prestes a serem comidas pelos cupins -, dois armários – que estavam na mesma situação que as mesas – e o sofá quebrado. Não havia televisão, computador e nenhuma diversão para Julia. Alias seu único brinquedo era uma boneca que ela cuidava como se fosse seu maior tesouro.

A outra peça, ainda menor era o quarto, com uma cama de solteiro onde dormia eu e Julia, e um berço que conseguimos de doação para Miguel. Provavelmente ele dormiria ali dentro até seus quinze anos se as coisas continuassem como estavam naquele momento.

Já era tarde, e olhei Miguel dormindo. Seu corpo parecia suado, e então encostei nele. Miguel estava ardendo em febre e molhado de suor.

- Julia. – Gritei. – Julia.

Ela veio correndo. Eu já estava com Miguel no colo, ele estava mole, mal conseguia manter-se ereto.

- O que foi papai?

- Tia Milena disse que se ele estava com febre quando saiu daqui?

- Não, ele estava bem papai. Até estava rindo.

- Oh meu Deus.

Julia muito esperta pegou o carrinho de bebê sem nem hesitar. Coloquei Miguel nele, e o cobri com um cobertor que estava na cama que era minha e de Julia.

- Vem Julia, vamos ao hospital.

Julia não conseguiria correr, e não poderia deixa-la sozinha em casa. Então tirei Miguel do carrinho, coloquei Julia sentada nele, e Miguel em seu colo. Cobri os dois com a coberta e comecei a correr em direção ao hospital.

Julia o segurava de modo protetor, confiava nela e sabia que nunca o deixaria cair. E eu empurrava aquele carrinho com velocidade, acostumado a caminhar muito, sabia que o hospital não estava a muitos quilômetros. Tinha de chegar lá o mais rápido possível.

O mendigo ✖ AyA {finalizada}Onde histórias criam vida. Descubra agora