Capítulo 109

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Ele chorava para variar. Avistei sua mãe, a loira tinha os olhos mel cansados. Se Alessandra e José – seu marido – ainda levassem a vida que levavam logo que eu conhecia, sabia bem o motivo daqueles olhares pesados: Gabriel, o menino que chorava.

Aproximei-me do casal e Poncho seguiu-me.

- Oi Alessandra, quanto tempo. – Sorri cumprimentando-a.

- Oi Anahí. Faz algum tempo sim. Como você está?

- Radiante. Sophia finalmente pôde fazer a cirurgia, e não sei se consigo esperar a recuperação para leva-la para casa.

- Fico feliz por você. – Fitei-a, sabia que ficava feliz de verdade por Sophia, mas seu sorriso era tão forçado e eu sabia bem o motivo.

Gabriel um garoto de somente seis anos sofria de câncer e vivia muito mais no hospital que em casa, quimioterapias, radioterapias e uma infinidade de outros tratamentos. O menino cresceu no meio disto e se tornara agitado, com medo e não se acostumava com certos procedimentos, sofrendo por antecedência, e por sua vez deixando seus pais exaustos. Ambos amavam Gabriel assim como eu amava Sophia, e ficavam noites sem dormir, desprendiam de seu tempo e dinheiro para proporcionar ao único filho uma vida que ele merecesse, uma vida que lhe fosse confortável, como se tentassem pagar de alguma forma pela doença que ele tinha.

- Como ele está? – Perguntei vendo Gabriel que não parara de chorar ainda.

- Ele está melhorando, respondendo aos tratamentos.

- E José?

- Ele está trabalhando hoje, estou com Gabriel este mês já que tirei umas férias.

- Está com Gabriel? Você e José se separaram? – Perguntei surpresa, aquele era o tipo do casal que jamais se separariam, se depois de tudo que haviam passado seguiam juntos, não havia motivo grande o suficiente para conseguir afetar o amor que ambos tinham um pelo outro.

- Não, não. – Disse ela negando firmemente. – Me expressei mal. É que ele precisava fazer algumas viagens por conta da empresa e como não conseguimos ninguém para ficar com Gabriel meio turno que fosse eu acabei tirando umas férias. Felipe ficou cuidando da empresa enquanto meu marido viaja, mas você sabe como é deixar algo nas mãos de terceiros.

- Antes a empresa que os filhos. – Completei.

- Com certeza. – Ela sorriu.

Por um momento nos olhamos estranhas, quando parei para ouvir, algo estranho aconteceu. Eu não ouvia absolutamente nada.

- Você está ouvindo. – Perguntei com os olhos fixos no de Alessandra e o cenho franzido.

- Não.

- Nem eu. – Completei.

Voltamos o nosso olhar ao menino e tivemos uma surpresa. Enquanto conversávamos distraídas, Alfonso havia se agachado a altura do menino e os dois estavam tendo uma conversa muito animada, não sabia o que estavam conversando, mas em todos os anos que conhecia Alessandra e sua família era a primeira vez que via um sorriso de Gabriel. 


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Ponchito lindo, leva jeito com crianças *-*

O mendigo ✖ AyA {finalizada}Onde histórias criam vida. Descubra agora