Capítulo 123

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- Mas se não somos alvos, por que está com medo? Por que está me deixando com medo.

- Por que Any, mesmo que ninguém vá invadir essa casa atrás de nós, mesmo que não sejamos alvos, eles não estão nem aí para nossa segurança, essa casa assim como todas as outras podem ser alvo de balas perdidas, estando ou não no meio de tudo isso. Por isso preciso que você fique deitada o tempo todo, é a única forma de ficarmos em segurança. – Murmurei perto de seu ouvido. – Não importa o que ouça ou o que aconteça, tens que ficar deitada.

- Poncho... – As lágrimas de medo já escorriam pelo seu rosto.

- Eu vou estar aqui com você Any, vou estar com você.

Puxei-a para meu peito e a abracei-a em volta da cabeça. Queria protege-la e protegeria com minha vida se fosse necessário. Tinha tanto medo, tanto medo. E quando parei para refletir nos segundos que consegui, sabia que tinha muito mais medo por ela. Eu já havia visto isto diversas vezes, passado por isto, e deveria estar relaxado por nenhuma criança estar lá, mas tinha tanto medo por Anahí que me doía.

Recordei-me do ultimo tiroteio que havia presenciado. Miguel graças a deus não estava presente, mas Julia estava lá. Abracei-a do mesmo modo que fiz com Anahí, mas ela cabia total em meus braços, e quando tudo terminou havia morrido uma criança, uma da mesma idade de Julia. A mãe desesperada, chorava, gritava, esperneava, mas ainda sim não havia mais nada que fazer, a menina não estava mais lá. Fora pela primeira vez que vi o brilho dos olhos de uma pessoa viva desaparecer como se houvesse morrido, parecia que havia morrido para o mundo. Nunca mais vi ou ouvi falar dessa mulher.

As lembranças me atordoavam. Acordei dos meus devaneios quando ouvi o primeiro tiro e percebi que Anahí ficou rígida contra meu corpo, agarrou minha camisa com força como se fosse arrancá-la, ela estava em pânico.

- Poncho... – Ela murmurou chorando.

- Tape os ouvidos Anahí, não vai fazer parar de escutar, mas vai diminuir o volume. Tampe-os.

Ela obedeceu, tampou os ouvidos, mas cada disparo parecia que Anahí tinha uma contração, ela já não conseguia relaxar. Eu a abraçava forte, estava apavorado também os tiro estavam cada vez mais altos e pareciam vir de mais perto. Então começou uma onda de estampidos sem fim, já não se tinha mais silêncio, todos os segundos eram tomados por barulhos de disparos que pareciam vir de todos os lados.

Meus ouvidos doíam diante do barulho, queria tapá-los, mas para isto teria de soltar Anahí, não tive coragem. Fechei os olhos e segurei ela ainda mais firme. Percebi que ela falou algo, e que ainda chorava, ela murmurou baixo e meus ouvidos estavam cansados do barulho, não consegui ouvi-la.

- Eu estou aqui Anahí, eu estou aqui.

Os tiros começaram a se acalmar já eram quase três horas da madrugada. Anahí não conseguiria dormir, não estava relaxada, e não havia como sair dali com segurança antes do amanhecer. Não demorou mais que uma hora para o tiroteio recomeçar e junto recomeçou o pesadelo, porém não durou tanto quanto antes, deveriam estar quase sem munições ou com alguma gangue vitoriosa.

Quando senti que tudo estava seguro, comecei a organizar tudo para que Anahí pudesse ir para casa. Ela não descansaria ali, e talvez não tivesse forças para ir para casa.

- Você trouxe seu celular? – Anahí assentiu. – Ligue para Fábio, peça para que ele nos busque. Você não tem condições de caminhar.


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Coitadinha da Any gente :/ , pelo menos os dois estão bem <3

O mendigo ✖ AyA {finalizada}Onde histórias criam vida. Descubra agora