Capítulo 72

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- Já havia comido fast food?

- Já, algumas vezes, mas não desse jeito. – Disse ele sentado a mesa comendo uma batata frita.

- Como assim? – Franzi o cenho.

- Nunca comprei uma comida dessas. Eu geralmente pegava.

- Roubava?

- Não. – Então eu aliviei minha expressão. – Há alguns meses atrás ficamos sem comida, e eu tinha dinheiro só para comprar algo para o Miguel, fui no mercado e junto havia uma loja dessas que vende lanches. Quando olhamos a mesa, tinha saído um casal de jovens e haviam deixado algumas batatas e refrigerante ali, Julia nem pensou duas vezes. – Ele forçou um riso. – Correu até a mesa e pegou as batatas, então começamos a passar lá com mais frequência, e você não tem noção da quantidade de pessoas que pedem coisas e não comem.

Comecei a rir, não sei se de tensa ou de graça. Aquilo era algo tão surreal.

- Porém depois de um tempo, - ele continuou – o guarda do lugar não deixou mais pegar, e acabamos perdendo o lanchinho extra.

- Poncho... Isso é inacreditável. – Ainda não conseguia parar de rir.

- Sabe Anahí... – Ele pegou minha mão e no mesmo instante vendo sua expressão meu sorriso fechou-se, ficando séria. – Não é fácil...

- Eu imagino que não seja Poncho... Eu talvez nunca conseguisse.

- Eu não acredito nisso, tenho certeza que sobreviveria, e fui um tolo quando disse o contrário. Você é uma guerreira.

- É complicado, não sei como consegue...

- Sabe aqueles carros de feiras? – Eu assenti. – Quando eles saem, eles acabam por deixar nos lixos da redondeza as frutas que não foram vendidas, aquelas que provavelmente não irá conseguir mais vender. O mendigo vai lá, com fome e encontra no lixo um grande cacho de bananas, ele está com fome, pega as bananas menos passadas que estão lá e come. Em seguida passa outro com ainda mais fome, ele pega as bananas ainda mais passadas e come. Logo passa outro que tem ainda mais fome que o anterior e pega as que já estão podres. Os demais passarão reto, até que passará aquele que estará realmente morrendo de fome, parará e comerá as cascas.

Engoli seco, nunca havia pensado no mundo dessa maneira, tanto que não consegui encará-lo por um par de segundos. Então senti sua mão buscando meu queixo e me fazendo erguer os meus olhos para os dele.

- Não sinta pena, essa é a minha vida e eu sei viver com isso, assim como você saberia se tivesse nascido em um ambiente parecido.

- É difícil pensar que tem pessoas: crianças, idosos que vivem deste modo e...

- Não há nada que você possa fazer, não tente abraçar o mundo Anahí. – Me interrompeu.

- Posso abraçar ao menos você? – Então finalmente fixei meu olhar no dele.


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Aiiiiii gente, preciso abraçar ele também! 

O mendigo ✖ AyA {finalizada}Onde histórias criam vida. Descubra agora