Capítulo 63

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Não demorou muito para que as dores de Sophia voltassem e logo ela foi sedada para poder sentir-se melhor. Meu pai estava por perto quando ela começou a sentir as dores, e a medicou. Ela abraçou-se em mim enquanto a dor aliviava e ela caia no sono.

Ela estava sem fios de monitoramento, então a peguei no colo se sentei na cadeira. Fazia tanto tempo que esperava para poder pegá-la de novo. Peguei-a enrolada em um cobertor, ela ainda estava muito mole, como um bebê recém-nascido, por isso tinha que ter muito cuidado para não machuca-la. Meus olhos não seguraram as lágrimas, havia esperado tanto tempo para poder pegá-la no colo novamente, meu coração sentia-se preenchido novamente.

- E então papai? – Perguntei antes que ele saísse. – A cirurgia é viável?

- Ainda não sabemos, ela fará outra ressonância a noite quando dormir. As mudanças de uma ressonância para outra é muito grande, precisamos de um quadro estável para fazer a cirurgia. Nós temos que ter certeza do que vamos encontrar para diminuir os riscos.

- E quanto a questão de desenvolvimento dela?

- Isso seria melhor ver com um especialista depois que ela se recuperasse, não sou a pessoa certa para te dizer o que realmente irá acontecer. A única coisa que eu sei é que ela perdeu dois anos, e são dois anos de aprendizado intenso, desde a fase de coordenação motora, coordenação da fala, entre outras atividades que uma criança aprenderia entre dois e quatro anos. Pode ser que ela consiga recuperar isso rápido com tratamento, pode ser que ela nunca recupere esses dois anos de vida, e continue a se desenvolver sempre com dois anos de atraso. – Suspirou. – Mas isso só fará diferença até chegar a puberdade, depois disto Anahí, ela assumirá a própria idade tranquilamente.

- Eu pensei nisso também, e de certa forma é até egoísmo pensar nisso depois de tudo que ela passou. Mas fico pensando no desenvolvimento social dela durante a adolescência... Não queria que ela sofresse mais, nunca mais.

- Any, minha filha. – Ele se aproximou de mim. – Você tem que saber que o que aconteceu não é sua culpa, não é culpa minha, de Marichello, de Rodrigo ou de quem fosse. Talvez a culpa nem seja daquele caminhoneiro. As coisas simplesmente aconteceram, e talvez se não fosse desse jeito iria ser de outro. – Ele puxou a cadeira e sentou-se a minha frente. – Olhe sua filha. Ela é um milagre, um milagre que ninguém explica, nem a ciência e nem a religião, e não é egoísmo pensar em como tudo isso irá afetá-la, não é egoísmo querer que ela não sofra mais. E muito menos não é egoísmo achar que simplesmente acordar não é o suficiente, você é mãe e você sempre irá desejar mais para ela, tudo sempre será pouco. – Ele então se aproximou e beijou o topo da minha cabeça. – E também não seria egoísmo pensar um pouco em você mesma e em seu coração.

- Você fala de Rodrigo? – Não sei por que Rodrigo veio em minha cabeça, mas desde o nascimento de minha filha, papai sempre foi a favor da minha volta do Rodrigo para que Soph tivesse uma família. Depois do acidente, no entanto, ele nunca mais falou sobre esta hipótese.

- Não. – Ele disse negando com a cabeça. Em seguida fitou a porta, e eu olhei também. Poncho estava lá do lado de fora, talvez esperando o momento propício para entrar. Meu pai voltou a me olhar. – Ele te faz muito bem, não faz?

- Faz sim. – Sorri, mas um sorriso que logo se apagou. – Mas ainda não estou pronta para isso, e de verdade nem quero nenhum envolvimento agora.

- Sabe minha filha? – Ele disse se levantando, já pronto para sair. – Você mente tão bem quanto seu pai. – Ele disse irônico e nós dois acabamos rindo. Em seguida ele saiu do quarto, fazendo sinal para que Poncho entrasse.


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Todo mundo notando o que tá acontecendo ;) 

O mendigo ✖ AyA {finalizada}Onde histórias criam vida. Descubra agora