Capítulo 10

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Pude sentir meu pai abraçando-me com força. O que estava acontecendo mesmo? A um minuto atrás havia lhe contado que havia ajudado um mendigo e o trazido ao hospital com o filho, e no outro meu pai me abraçava e chorava como uma criança.

- Eu... Eu não entendo. – Disse assustada no meio daquele abraço apertado.

- Minha princesa, sabia que ainda era minha princesa. – Aquilo não fazia sentido, pelo menos não naquele momento.

- Pai? – Tentei chamar sua atenção para saber se ele me explicava o que estava ocorrendo naquele momento.

- Sabe? Faz algum tempo que sinto você distante do mundo, vendo você olhar somente para si, esquecendo que existem milhões de pessoas a sua volta, pessoas que passam necessidades, pessoas que necessitam de ajuda. Não que você tenha que ser uma entidade de caridade, mas que você tenha sua essência. Algo que confesso que perdeu por minha culpa.

- Não foi por sua culpa papai. – Sorri de canto. Sentia-me uma tola, achava que meu pai enlouqueceria por ter feito isto. Pelo contrário, ele sentia-se orgulhoso de mim, e pelo visto estava completamente disposto a ajudar o menino.

Expliquei ao papai que Alfonso não queria deixar o menino aqui por conta dos gastos que não poderia cobrir. E de alguma forma eu o entendia, era a questão do orgulho interno de poder dar do seu aos filhos, e não depender de terceiros para isto.

- De maneira alguma. O menino ficará sob meus cuidados até ficar completamente bem, e não há discussões sobre isso. – Manteve-se firme.

Apenas pude respondê-lo com um sorriso.

- Bom papai, eu tenho que de ir agora. Tenho de levar Julia e Alfonso para tomar um banho, comer algo. Talvez o convença a passar a noite na casa, tem vários quartos de hospedes lá e creio que não há problema.

- Minha filha. – Chamou-me.

- Sim.

- Eu acho lindo tudo isto que está fazendo. Só tome cuidado, não digo isto por ele ser um mendigo, poderia ser o rei da França. Tu não o conheces direito, leva-lo para dentro de sua casa é uma grande responsabilidade.

- Entendo papai, mas não se preocupe, eu sei me cuidar. Creio que Julia e Aninha se darão muito bem, de qualquer forma, ficarei de olho em tudo. Nunca exporia Aninha ou a mim em risco.

Papai apenas aproximou-se dando um beijo em minha testa. Agora tinha de descer, Alfonso devia estar cansado de esperar, e Julia a esta altura já deveria estar acordada querendo saber do irmão.

Antes de ir ao encontro dos dois, tive de passar novamente na UTI infantil e ver Miguel, que dormia como um anjo. Sorri, ao vê-lo. Tinha muito de Alfonso. Não sabia se os olhos eram tão verdes quanto os dele e os de Julia, mas a expressão era a mesma.

Dei um beijo em sua testa.

- Logo estaremos de volta Miguel. – Murmurei sem acordá-lo.

O mendigo ✖ AyA {finalizada}Onde histórias criam vida. Descubra agora