Capítulo 98

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Haviam se passado alguns meses desde a festa e muitas coisas haviam mudado nos últimos tempos. Sophia havia acordado do coma a uma semana e estava sendo preparada para a cirurgia, os riscos eram grandes, mas era sua única chance, não havia outras opções. Poncho havia voltado para sua casa, levado Miguel e Julia com ele. Julia ficou contente, ela definitivamente não nos queria tão próximos, eu não a julgava era somente uma criança. Ele voltou ao trabalho dele como catador, e dependia somente dele mesmo.

Ainda nos víamos, com menos frequência, muito menos. Desde a festa não tivemos nenhuma relação íntima se quer. Sentia falta dele, muita falta. Ele era um bom amigo, e querendo ou não admitir, um bom amante.

- E como estão as coisas? – Conversamos como dois estranhos no saguão do hospital.

- Estão bem, Julia tem melhorado na escola e Miguel está com saudades. Ele está cada vez maior, como crescem.

- Deveria ter trazido ele para me ver. – Sorri.

- Eu até pensei nisso, mas sei que hoje é a cirurgia de Sophia, creio que esteja com o coração na mão. – Disse enquanto nos dirigíamos ao elevador.

- De verdade estou. Hoje é tudo ou nada, e estou tentando ser confiante.

O silêncio nos rondou mais um pouco. Não sabíamos o que falar, estávamos emocionalmente distantes, mesmo não perdendo o contato, percebi que pouco a pouco Poncho foi sutilmente desprendendo-se de mim.

O que eu poderia fazer? Fui eu quem disse sexo sem compromisso. Deveria estar mais que satisfeita com isso.

- A casa está vazia sem vocês lá. – Disse finalmente quebrando o gelo, quando chegamos ao andar. – Linda me perguntou por Miguel hoje, todos nos acostumamos com a presença de vocês. Sentimos saudades.

- Eu também sinto saudades de vocês, e as crianças também. Quer dizer, Julia está contente, devo admitir. Mas Ana Paula fazia muito bem a ela.

- Por que não voltam?

- Any, eu te expliquei milhões de vezes. Não quero isto. Quando estiver tudo certo com Sophia faremos o combinado, Julia e Miguel ficarão com vocês e eu encontrei um emprego descente, no entanto agora, isto é tudo que tenho. – Ele sorriu para mim.

- Você ainda está fedendo. – Sorri para ele.

- Eu sei, é difícil tirar o cheiro do lixão de mim. – Ele riu complacente.

- Vou lhe doar limões. – Brinquei.

- Limões?

- Quando fazia medicina uma vez tivemos que mexer em um corpo em decomposição. Apenas limões tiraram o cheiro terrível que eu fiquei. – Fitei-o sorrindo com a recordação. – Eu estava ficando com um menino na época, e quando ele sentiu o meu cheiro no corredor do prédio, ele nunca mais falou comigo. Desviava de mim todas as vezes que me via, tentando evitar um encontro. – Ri baixo.

- Que idiota. – Poncho bufou. – Eu nunca te evitaria independente do cheiro que estivesse. – Ele levantou o olhar para mim.


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Hmmmmmmmmmmmmmmm.... Herrera ta querendo ein ;)

O mendigo ✖ AyA {finalizada}Onde histórias criam vida. Descubra agora