Capítulo 20

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Era tanta coisa para assimilar que não podia acreditar. Como podiam viver assim? Como existiam pessoas que não viviam, mas sobreviviam.

- E como é criar duas crianças em um ambiente como aquele?

- Eles nos protegem mais que a própria polícia que muitas vezes invadem casas e atiram antes de perguntar. Não se metem com minhas crianças e não as influenciam para drogas, e fica tudo certo. Cresci ali, e sou respeitado. Isso garante a integridade de Julia, Miguel. E apesar de tudo existem muitas famílias ali.

- Quantos meses tem Miguel? – Na realidade queria perguntar quanto tempo havia falecido sua mulher, porém imaginava que perguntar a idade do menino era mais fácil e menos doloroso.

- Dez meses, e Julia seis anos.

- Aninha tem sete.

- E onde está a mãe dela?

- Viagem de negócios, volta amanhã de manhã. – Respirei fundo. – O pai de Aninha não é uma pessoa muito confiável então ela prefere deixar comigo.

- Ele fez algo errado com ela? – Perguntou espantado.

- Não neste sentido. – Sorri aliviando a tensão que vi nos olhos dele. – Ele apenas é descuidado, quando Aninha tinha apenas quatro anos quase deixou ela colocar fogo na casa por que deu um isqueiro para ela brincar.

Alfonso soltou um riso baixinho. Ele tinha uma risada gostosa. Mais alguns minutos de conversa, e ambos estávamos relaxados, bem o contrário de como estávamos quando o convidei para vir para a cozinha.

- Acho melhor irmos dormir. – Disse quando dividimos um bocejo e ele assentiu.

Levantando-me larguei os copos na pia e os lavei. Em seguida quando íamos sair, nos batemos de frente na porta da cozinha. Olhei para cima e ele me olhava fixo nos olhos. Senti um estranho calor percorrer todo meu corpo.

Não sei exatamente quanto tempo nos olhamos tão fixos, deve ter sido menos de um minuto, mas pareceram horas. Mergulhei naqueles verdes intensos e ele em meus olhos azuis da mesma maneira.

Nossos rostos se aproximaram, e iam se aproximando mais e mais. O que eu estava fazendo?

Recobrando minha consciência e a poucos centímetros de cometer uma loucura, virei meu rosto.

- Boa noite Poncho. – Era a primeira vez que o chamava assim.

- Boa noite Anahí. – Respondeu.

- Any... Me chame de Any.

- Boa noite Any. – Repetiu com um leve sorriso.

Fui para o meu quarto. E por incrível que pareça consegui dormir uma noite tranquila e de bons sonhos.

O mendigo ✖ AyA {finalizada}Onde histórias criam vida. Descubra agora