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[ 23 de setembro, segunda-feira ]






Eu não sou o tipo de pessoa que chama a atenção enquanto passa pelos corredores, como os atletas e as líderes de torcida, mas atraio alguns olhares curiosos quando apareço na escola na segunda de manhã com a metade inferior de quatro dedos da mão direita enfaixada. Tentei cabular aula com a desculpa de que não conseguirei anotar nada com a mão nessa condição — o que não é mentira —, mas meus pais não quiseram nem saber. Pelo menos o papai me deu uma carona; odiaria ter que pegar o ônibus escolar. Aquilo é uma verdadeira lata amarela de horror sobre rodas, sempre com chicletes colados por toda parte e adolescentes imaturos que sentem prazer em infernizar a vida alheia.

Sempre chego na escola com vinte ou trinta minutos de antecedência para que eu possa fazer tudo o que preciso sem me atrasar para a aula, então, como de costume, após pegar os materiais necessários no armário eu vou até a cantina para comprar café. Há quem diga que se você trabalhar com algo que gosta vai acabar enjoando em algum momento, mas cafeína é exceção a essa regra. Na verdade, passar trinta e cinco horas semanais em uma cafeteria só me fez gostar ainda mais dos preciosos grãozinhos torrados. Entrego uma nota de cinco pratas em troca da minha bebida, depois vou para o pátio exterior e ocupo uma das mesas vazias sob o sol. Minha mãe vive dizendo que preciso de mais vitamina D. Não tenho a chance de dar nem o primeiro gole antes de ouvir risadinhas se aproximarem de mim.

— O que é isso, Ariane? Eu sempre te achei parecida com uma múmia, mas andar enfaixada já é um pouco ridículo.

Mandy Collins. Se Castiel é meu pesadelo ruivo, Mandy é meu pesadelo loiro. Ela entrou na escola no ano passado e é a típica riquinha com síndrome de Regina George, que acha que fazer piadinhas maldosas com os outros é um traço charmoso de personalidade. A garota realmente acredita que é algum tipo de deusa, adorada e invejada. Não sei o que fiz para ser escolhida como um dos alvos de seus comentários infames, mas ela tenta estragar meu dia sempre que pode. Talvez o fato de eu não dar a mínima para ela sirva como uma espécie de incentivo.

— É, você é mesmo muito engraçada — respondo, sorrindo. — Estou sendo obrigada a usar isso porque me machuquei socando um cara. Já que me pareço tanto com uma múmia, talvez eu deva usar a outra mão pra socar você também, assim teria mais faixas para compôr meu visual. O que me diz? 

— Não se atreva a me tocar, idiota.

Reviro os olhos enquanto Mandy e suas amigas sem cérebro se afastam, mas não tenho tempo de apreciar nem um segundo de paz porque Castiel se senta ao meu lado. Hoje não é mesmo o meu dia. Bebo um gole bem grande de café para ser capaz de aguentar o que vem pela frente, sem me importar com a dormência que o líquido quente deixa em minha língua. O ruivo não diz nada por uns segundos, apenas encara meu curativo enquanto tira o fone de ouvido e o enrola antes de guardá-lo no bolso.

— O que houve com a sua mão?

— Eu me machuquei.

— É mesmo, Sherlock? — ele abre um sorriso sarcástico. — Eu sei que se machucou, quero saber como.

— E você se importa?

— Não, mas sou curioso. Então?

Reviro os olhos outra vez, tomando mais um pouco do café. Sei que ele não me deixará em paz enquanto não obtiver uma resposta.

— Bati num cara que tentou me agarrar. Satisfeito? — Castiel arqueia as sobrancelhas, mas não diz nada. — O que? Não vai questionar a veracidade da história? 

— Oh, não, eu sei o quanto você pode ser agressiva. Ainda tenho uma cicatriz no lugar onde me acertou com uma régua na sexta série — ele aponta para uma pequena marca em sua bochecha esquerda. — Só não entendo porque alguém iria querer te agarrar. 

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