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[ 23 de maio, sexta-feira ]



  Acaba que não preciso salvar minha donzela de castigo nenhum. Ariane nunca vai parar na direção, então foi liberada com um sermão apenas. Fiquei aguardando num dos bancos próximos a sala e ouvi o diretor murmurar algo como " o amor jovem " antes de dispensá-la. Ela parece bastante orgulhosa de si mesma enquanto nos afastamos pelo corredor de mãos dadas, mas provavelmente vai desejar se enfiar num buraco quando o efeito da vodka passar e se der conta de que fez uma declaração musical na frente da minha turma toda e de mais algumas pessoas, provavelmente.

  — Quer saber? É a segunda vez que você faz uma serenata bêbada pra mim e acho que estou ficando em débito.

  — Pode cantar para mim quando quiser — declara alegremente. — Aquilo não foi um pedido de desculpas, só para deixar claro. Não por ter ido ao evento, pelo menos. Foi mais uma compensação por não ter feito nada para você ontem.

  — Não precisava ter feito nada que te deixasse desconfortável, Greene.

  — Por você, valeu a pena. Eu queria tirar aquela tromba da sua cara e deixar claro que nos levo a sério, só pro caso de você ter alguma dúvida.

  — Não tenho nenhuma dúvida.

  — Bom.

  Ficamos em silêncio por um instante.

  — Eu é quem te devo desculpas, acho — digo.

  — Sou toda ouvidos.

  — Não fiquei zangado por você ter saído, ok? Só fiquei incomodado imaginando você e o Tobias juntos, principalmente porque não o conheço direito.

  — Eu... compreendo.

  — Não quero ser um namorado controlador, Greene, até porque você é minha namorada, não minha cachorra. Quer dizer... — ela belisca meu braço. — É brincadeira. Fiquei com ciúme e estava estressado por conta do cansaço dos últimos dias, me deixei levar. Me desculpe.

  — Tudo bem. Estive pensando e eu também sentiria ciúmes.

  — Não tem que dizer isso para me fazer sentir melhor.

  — Ora, por favor, Chase — Ariane abre um sorriso provocador, me fazendo sorrir também. — Estou falando sério. Só para esclarecer, Tobi e eu não estávamos sozinhos.

  — Vou ser um babaca se disser que fico feliz em ouvir isso?

  — Sinceramente, não sei. Minha mente está um pouco confusa.

  Rio enquanto descemos o primeiro lance de escadas.

  — Vamos lavar seu rosto. Qualquer um que olhar demais para os seus olhos vai notar que andou entornando o caneco.

  — O diretor não percebeu.

  — Ou ignorou, você sabe, em nome do amor jovem.

  Isso a faz gargalhar.

  — Tudo bem se quiser ter amigas, sabe? Provavelmente vou detestá-las tanto quanto você detesta os Frey, mas direitos iguais.

  — Não posso mais detestar o Leigh abertamente, Keith disse que vai ficar de mal.

  Ela ri outra vez.

  — E quanto ao Lys?

  — Lysandre pode beijar minha bunda. Acha que esqueci que ele te beijou? — bufo. — De qualquer forma, não estava falando sério ontem.

  — Mas eu estou. Não sou uma louca possessiva.

  — Eu sei, só que mal dou conta dos amigos que já tenho, acha que tenho energia pra mais?

  — Meu introvertido fofinho — ela diz com uma voz de bebê, abraçando meu braço. — Tem que trabalhar hoje?

  — Sim, felizmente ou infelizmente. Mas estaremos livres no fim de semana, então serei todinho seu.

  — Ooh, mal posso esperar.

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