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[ 27 de janeiro, quinta-feira ] 





   — Tá — suspiro. — Eu entendo que sua mãe tenha te deixado cair de cabeça quando era bebê, mas que loucura é essa agora?

  — Eu preciso da sua ajuda — Keith responde, adentrando o apartamento com sua mala enorme. 

  — Pra quê? Para fugir do país? 

  Eu o sigo até a sala, onde ele deixa a mala no sofá de dois lugares.

  — Não, eu quero melhorar a minha imagem. 

  — O que tem de errado com a sua imagem? 

  — Estive pensando naquela conversa e a Ari tem razão, eu sou fofo — declara como se fosse um grande fardo. — Estamos numa banda de rock, eu não quero ser o cara fofo. Ninguém me levará a sério. Mark devia ser o fofo, ele é o menor de nós.
 
  — Não sei qual o problema, as pessoas gostam de gente fofa. 

  — Não quando se faz parte de uma banda como a nossa. Você não entende porque é todo alto e musculoso e se veste assim — ele faz um gesto com a mão, indicando minhas roupas. — Aposto que as garotas te olham e te acham sexy e viril, não fofo. 

  Penso em fazer uma piada, mas mudo de ideia. Keith está visivelmente chateado. Ele me ouviu e me ajudou quando quase surtei por causa da possibilidade de ter um filho, então o mínimo que posso fazer é tentar ajudá-lo também. Me sento no sofá livre, de frente para ele. 

  — Olha, eu me visto assim há muito tempo. É meu estilo, você tem o seu. Não tem nada de errado em ser do jeito que você é. Não precisamos de dois Castiel na banda, mas precisamos de um Keith. 

  — Então, não acha que eu preciso ser mais punk ou sei lá? 

  — Não — balanço a cabeça. — E eu tenho certeza de que a Ariane não estava te criticando ou julgando quando disse que você é fofo. Além do mais, você não tem que ligar para as provocações daqueles dois patetas. Me diz, qual deles parece minimamente rockeiro? 

  Keith torce a boca, pensativo. 

  — Ok… Está certo. Mas ainda quero que me ajude a escolher uma roupa para a entrevista. Temos pouco tempo. 

  Ele abre a mala e sinto vontade de correr para longe. 

  — Está brincando comigo? Você trouxe seu armário todo?! 

  — Claro que não, deixei os pijamas e as camisetas de político em casa. Eu vou provar algumas combinações que gosto, e você diz qual é a melhor.

  — Está querendo fazer um desfile pra mim? — pergunto com descrença. 

  — Tipo isso. Qual o problema? Você é meu amigo. 

  — É, e estou começando a me arrepender disso. 

  — Qual é, é só me dar sua opinião. Posso usar o quarto?

  — Vai nessa, não tem como isso ficar mais estranho mesmo — gesticulo na direção do corredor, me levantando. — A pior parte é que tenho que passar por isso sóbrio. 

  — Você só tem dezoito anos, deveria passar por tudo sóbrio. Agora, senta aí e espera. 

  — Você não manda em mim. 

  — Mando sim, eu sou mais velho.
 
  — E eu sou mais alto. 

  Keith mostra o dedo do meio e fecha a porta do quarto. Ninguém merece. Me acomodo no sofá novamente, fazendo o melhor que posso para ignorar a tentação de pegar uma cerveja. Meu celular vibra no bolso, e sinto um pouco menos de desgosto e nervosismo ao ver de quem é a mensagem que acabou de chegar. 

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