You

120

[ 01 de maio, sexta-feira ]

    Eu não estava planejando agredir ninguém quando me ofereci para comprar as bebidas, juro! Sequer percebi o que estava fazendo; só me dei conta do que aconteceu quando o homem caiu no chão, desacordado, depois de a lata de refrigerante atingir a parte de trás de sua cabeça com força. Eu o reconheci da descrição que Keith deu dos homens que agrediram ele e Leigh na segunda, e ele parecia muitíssimo bem — o que não é nada justo. Os machucados de Leigh ainda não sumiram. Apesar da raiva, eu não queria fazer o cara desmaiar.

    Todos ao redor me olharam com horror, depois correram até o homem. Ele bateu contra as prateleiras de enlatados enquanto caía e uma lata de legumes em conserva caiu sobre seu nariz, fazendo-o sangrar. Agora, ambos estamos sentados em cadeiras na delegacia, aguardando a chegada do Keith para fazer o reconhecimento do homem. Eu expliquei para o policial o motivo de ter feito o que fiz e ele foi bem compreensivo, apesar de ter me dado um sermão.

    Não serei detida nem multada se esse cara for mesmo um dos homens da agressão, o que é um alívio. Já não tenho muita esperança de ser aceita na universidade daqui, com uma ficha criminal então...

    De repente, duas pessoas desesperadas entram na delegacia. Não consigo ver seus rostos de primeira por conta da luz, mas não demoro para reconhecê-los. Meus pais. Notamos uns aos outros ao mesmo tempo, e me levanto enquanto eles se aproximam com passos rápidos. Droga, droga, droga!

    — O que estão fazendo aqui? — pergunto, tentando não demonstrar o quão nervosa me sinto nesse momento.

    — O que estamos fazendo aqui? — papai rebate. — O que você está fazendo aqui, Ariane? Sabe o quão preocupados ficamos quando recebemos uma ligação dizendo que nossa filha estava na delegacia porque agrediu uma pessoa? O que estava pensando?!

    — Pai...

    — Não, não diga nada. Eu sabia que isso ia acontecer. Nunca deveríamos ter permitido que fosse morar com aquele arruaceiro.

     E com isso o nervosismo dá lugar a irritação.

    — Castiel não tem nada a ver com isso.

    — Você nunca tinha sido presa antes de se envolver com ele. Veja se sua irmã se mete em situações como essa estando com o Lysandre.

    — Pare de comparar os dois! Eu estou na delegacia, pai, não o Castiel, então por que culpá-lo? — nesse momento o policial com quem falei passa por nós e eu o paro. — Por que ligaram pros meus pais? Você me disse que eu não seria punida!

    — Não por nós — ele responde com paciência. — Mas você é menor de idade, mocinha, então precisávamos avisar seus pais.

    — Só que eu não moro mais com eles.

    — Ainda assim. Faz parte do protocolo, a menos que haja um documento de emancipação legal. Espero que possa me perdoar.

    Bufo e reviro os olhos, virando a cara. Ouço o policial se afastar.

    — Essa não é você, Ariane — mamãe diz. — Olhe como está se comportando, toda agressiva. Seu pai está certo, não deveríamos ter permitido que continuasse a namorar aquele menino. Ele não é uma boa influência.

    — Mãe, isso não é justo! Peço desculpas por ter agredido aquele homem, mas fiz isso pra defender um amigo. Dois amigos, na verdade.

    — Que amigos valeriam o risco de ser presa?

    — Keith — respondo com firmeza. — E Leigh. Aquele homem e dois amigos os agrediram verbalmente e fisicamente.

    — Por que fariam isso? — mamãe parece espantada. — Principalmente com o Leigh, que é um homem tão respeitoso e educado.