16

1.5K 192 77
                                    

[ 15 de outubro, terça-feira ]



— Sabe, Ari, você precisa parar de se machucar — Keith diz me entregando uma nota de vinte dólares, que eu enfio na caixa registradora. — É muito cansativo ter que servir todas as mesas sozinho. Quatro pratas de troco.

Pego o dinheiro necessário e estendo para ele.

— Não foi culpa minha — encolho os ombros. — Dessa vez eu caí, não bati em ninguém.

— Como é que tanto azar pode caber em um corpinho tão pequeno? Além de segurar vela, você torce o tornozelo.

— Eu tenho altura mediana e não estava segurando vela. Lysandre e minha irmã são só amigos.

— Só porque sua irmã quer assim, não é? 

— Podemos mudar de assunto?

— Claro. Vou entregar o troco, antes que aquele cara pense que estou tentando roubá-lo.

Assisto enquanto Keith se afasta, observando que seu modo de andar é um bocado parecido com o de Castiel. Balanço a cabeça. Não; isso de novo, não. Depois que o ruivo foi embora ontem, me peguei pensando involuntariamente nele e na proposta que me foi feita em vários momentos ao longo do dia. Não sei o que está acontecendo; eu sempre pensei tanto assim no Castiel, ou minha mente resolveu me pregar peças? 

Na verdade, acho que tenho uma pequena ideia do que está havendo. Estou quase no fim da adolescência e nunca fiz nada que jovens considerados normais fariam. Excluindo as festas, que não frequento porque lugares cheios e barulhentos não são muito minha praia, deixei e deixo de fazer muitas coisas por mais medo de acabar decepcionando meus pais do que por qualquer outra razão. Meus pais não são severos demais nem nada do tipo, mas ainda assim sempre fiz o máximo possível para ser uma filha obediente. Nunca tive nem metade da ousadia e da coragem que Ariana possui.

Apesar de tudo isso, de vez enquanto sinto uma pequena vontade de me rebelar borbulhar na boca do estômago, como quando a Kat ficou bêbada e dançou em cima da mesa na festa do Bogie Lowenstien. Castiel é meio que um Patrick Verona, não é? Ele pode não ser tão charmoso quanto o Heath Ledger, mas sejamos francos, quase ninguém é. 

Por mais que eu deteste admitir, a verdade inegável é que a proposta de Castiel me deixou tentada. Me envolver com um pseudo inimigo que meu pai detesta? Seria como vivenciar alguma das histórias de amor que tanto gosto de ler e assistir, e isso envia raios de excitação para todos os cantos do meu corpo. 

Mas não. Não seria uma boa ideia. 

— Então — Keith se escora no balcão depois de ter atendido todas as mesas. — Seu amigo Lysandre vai te dar caronas de novo?

— Não. Ele até se ofereceu, mas acho que eu já abusei da boa vontade dele naquele episódio do pulso. Além do mais, o carro é do irmão dele.

— O que vai fazer, então? 

— Chamar um uber, como fiz para vir pra cá. 

— Na boa, Ari, eu nem sei porque você veio trabalhar. Quer um café? — faço que sim com a cabeça, então o loiro vai até a máquina para preparar duas xícaras. — Você tem um atestado médico, pode ficar em casa sem perder a remuneração. 

— Aqui não tem escadas, então nada me impede de vir. Já fico satisfeita não indo às aulas.

— Pois eu ficaria em casa com o maior prazer. Aqui, um expresso com creme para a minha doce parceira.

Nenhum cliente novo aparece por um tempo, então Keith e eu aproveitamos para tomar nossos cafés e conversar um pouco mais. Lá para as três e meia da tarde, quando faltam só trinta minutos para irmos embora, Castiel aparece. Minhas bochechas ficam quentes assim que nossos olhares se encontram. Ele está vestindo uma regata preta que deixa as tatuagens em seu braço direito bem visíveis, jeans escuros, botas pretas de combate e uma camisa xadrez preta e branca amarrada na cintura. Para completar, seu cabelo está solto, caindo sobre os ombros como uma cascata de sangue. Solto um suspiro involuntário. Seria muito mais fácil manter minha decisão se ele não fosse tão bonito.

— Mas o que é isso? — Keith pergunta com um tom provocador. — Desde quando você fica toda vermelha e suspirante por causa desse cara? Não me diga que vocês finalmente resolveram ceder a toda essa tensão sexual.

Tensão sexual? — questiono, espantada. — Não existe tensão sexual nenhuma, seu maluco. Agora, por favor, xispa daqui. 

Keith se afasta em meio a risinhos, cumprimentando Castiel no caminho. Dou uma ajeitada rápida no cabelo e na roupa.

— E aí, garotinha — o ruivo diz ao parar na minha frente. — Como vai o tornozelo?

— Melhorando. Como sabia que eu estava aqui?

— Seu querido Lysandre me contou, e depois perguntou se eu virei na festa de halloween do Hummingbird. 

— Desde quando você e Lysandre conversam? 

— Ah, sabe como é, nós dois somos rejeitados pelas gêmeas Greene. Isso nos aproximou — faço uma careta. — Por que não me disse que vai rolar uma festa aqui? 

— Sei lá, eu esqueci — dou de ombros. — Mas você pode vir, se quiser. É aberto ao público. 

Castiel abre a boca para dizer alguma coisa, mas é interrompido por Keith, que parece irritado e preocupado ao se aproximar de nós.

— Você não vai acreditar. Nosso vocalista, o Eric, acabou de me mandar uma mensagem dizendo que não vai poder fazer o show.

— O que? Por que não?

— Problemas pessoais, ele disse. Vai precisar fazer uma viagem de duas semanas. O que faremos, agora? Já colocamos nos panfletos que vai rolar música ao vivo, mas não dá pra contratar outra banda tão em cima da hora e não sei onde arranjar outro vocalista. Isso vai ser um fiasco!

— Isso é sobre a festa que vão dar? — Castiel pergunta, e eu confirmo. — Eu posso substituir o tal do Eric.

— Você canta? — Keith pergunta, esperançoso.

— Canto, e também sei tocar guitarra e violão.

— Mas isso é perfeito! Espera, precisamos saber se você é bom. Vem pra um ensaio com a minha banda hoje à noite.

— Qual o nome da banda?

— Fish n' Chips.

Castiel solta uma risadinha de escárnio.

— Quer que eu faça audição pra uma banda chamada Fish n' Chips

— Não seja grosseiro — peço. 

— Tá, tudo bem, foi mal. Eu vou.

— Ótimo! Vou anotar o endereço.

Esse foi curtinho, galera. Logo, logo, tem mais :)

YouOnde histórias criam vida. Descubra agora