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[ 2 de outubro, quarta-feira ]




Estou relaxando sob o leve sol da manhã na arquibancada do campo de futebol durante o intervalo quando Castiel se senta ao lado da minha cabeça sem falar nada. Não tive notícias dele depois do episódio no Hummingbird no sábado, então fico um pouco surpresa. Me sento também, tirando o fone dos ouvidos.

— Como está sua boca? 

— Nova em folha — ele responde enquanto chacoalha uma caixinha de leite com chocolate, encaixando o canudo na mesma em seguida. — Tirar o siso foi uma das piores experiências da minha vida. A única parte boa foi conseguir um atestado médico pra matar aula. 

— Esses dois dias sem você foram muito bons mesmo.

— Diga o que quiser, garotinha, eu sei que morreu de tédio sem mim. Quer?

Ele me oferece a bebida, e eu aceito porque não se recusa leite com chocolate, principalmente os de caixinha. Tento dar um gole sem encostar muito no canudo, mas é impossível, então só tento não pensar muito no fato de que o leite que está descendo pela minha garganta contém saliva de Castiel. Por outro lado, isso não é pior do que tirar um pedaço de algodão ensanguentado de sua boca. 

— Você acabou de me beijar indiretamente — o ruivo provoca quando lhe devolvo a bebida, abrindo um sorriso travesso.

— Obrigada por estragar o achocolatado para mim. Você tem insistido um bocado nessa história de beijo ultimamente… Estou começando a achar que está apaixonado por mim — provoco de volta. 

— Coitadinha. Não fui eu que me escondi atrás de uma árvore pra ficar tirando fotos suas. 

Meu rosto fica quente.

— Sou uma fotógrafa em potencial, não consigo resistir quando vejo algo digno de ser registrado. 

— Está dizendo que sou bonito demais para não ser eternizado em uma fotografia? Que as futuras gerações precisam ter uma imagem minha para saberem o que é a verdadeira beleza? Que eu deveria ser exposto em uma galeria junto com as outras obras de arte?

— Você é insuportável, sabia? 

— Insuportavelmente lindo? — ele balança as sobrancelhas para cima e para baixo. 

— Tudo bem, já chega. Cansei de você.

Me levanto e dou umas batidinhas na minha calça para me livrar das sujeirinhas que se prenderam ao tecido. O campo de futebol fica bem longe do lugar onde costumo passar os intervalos, mas o Castiel tem a habilidade irritante de me encontrar em qualquer lugar. Me pergunto se ele procura por mim ou se só pensamos de forma parecida e, por isso, acabamos sempre juntos. Nenhuma das duas opções me agrada muito.

— Já que estragou minha tentativa de relaxamento, vou levar isso como compensação — digo, tirando a caixinha de achocolatado da sua mão. — Tchauzinho, bobão.

                                        •

Na escola, além das matérias básicas, apenas uma outra é obrigatória para todos os alunos: economia doméstica. É uma aula que temos uma vez por semana em dias variados, onde basicamente nos ensinam coisas que serão úteis ao longo da vida, tipo cozinhar e como administrar nosso dinheiro. Normalmente acho que são cinquenta minutos proveitosos, mas não dessa vez. Ainda nem foi anunciado o que teremos que fazer, entretanto, só o fato de termos que nos unir com a outra turma do terceiro ano já me deixa desmotivada. Não me entenda mal, não tenho nada contra a outra turma, só contra um integrante dela.

As salas de aula convencionais são pequenas demais para acomodar mais de sessenta alunos de uma vez só, então somos levados para o auditório. Ocupo um assento na terceira fileira, e felizmente Lysandre se senta ao meu lado. A presença de Lysandre é altamente vantajosa porque além de tê-lo perto o suficiente para conseguir sentir o cheiro de seu perfume, Castiel evita se aproximar quando ele está presente. Não entendo a implicância tosca do ruivo, mas ela tem um lado bom.

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