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[ 21 se setembro, sábado ]




Eu sei que para muitas pessoas a melhor parte do fim de semana é poder acordar ao meio-dia, mas para mim é diferente. Na minha opinião, a melhor parte do fim de semana é poder acordar cedo sem compromisso nenhum. Poucas coisas são mais satisfatórias do que despertar às sete e enrolar na cama por umas duas ou três horas, sem me preocupar com a escola ou com o trabalho. É assim que sempre começo meus finais de semana — com algumas raras exceções —, e dessa vez não é diferente.

São nove e meia quando decido me libertar dos cobertores e sair da cama de vez. O ar gelado atravessa o tecido fino do short e da blusa de alcinha do meu pijama, fazendo cada centímetro de pele se arrepiar. Eu sei que uma roupa quente faria mais jus ao clima outonal, mas calças e mangas compridas atrapalham meu sono. Vou até o armário para pegar meias e um casaco, e depois de uma ida rápida ao banheiro, desço até a cozinha para preparar um capuccino quentinho. 

O papai já saiu para trabalhar, mas encontro minha mãe e minha irmã. Ariana está sentada à mesa enrolada em seu robe de cetim lilás, com um copo de suco e uma torrada integral a sua frente. Desde o início da puberdade ela começou a dar preferência a refeições mais saudáveis e menos calóricas. Não acho que sua atitude esteja errada, mas também não abriria mão de um belo hambúrguer por um sanduíche natural. 

Mamãe está de pé em frente a ilha da cozinha, mexendo alguma coisa em uma tigela — provavelmente o recheio de um de seus bolos. Ela não voltou a trabalhar depois que nós nascemos, até recentemente. Há alguns meses ela levou uma torta para uma confraternização da empresa onde o papai trabalha, e uma mulher perguntou se ela aceitava encomendas. A partir daí, mamãe começou a vender doces. Gosto de vê-la fazendo isso; ela adora cozinhar e sempre mandou muito bem nas sobremesas. Além disso, tenho certeza que ela ama ouvir a chuva de elogios sobre sua comida. Me aproximo para lhe dar um beijo de bom dia.

— Bom dia, meu bem — sorri. — Como foi sua noite? 

— Boa — respondo, colocando um pouco de leite para esquentar. — Tive um sonho estranho, mas não me lembro como foi. Tem muitas encomendas pra hoje? 

— Três bolos e uma torta; vai ser um sábado movimentado. Precisarei de ajuda com o almoço. Experimenta — mamãe ordena, pegando uma colherada do creme azul da tigela e entregando para mim. — Quer provar também, Ana? 

— Valeu, mãe, mas eu passo. Comer doce a essa hora da manhã vai fazer minhas coxas aumentarem.

— Que bobagem! 

— Isso está delicioso! — exclamo, tentando pegar outra colherada. Mamãe dá um tapinha leve na minha mão, rindo. Jogo a colher suja na pia. — O que é?

— Obrigada. É uma mousse de chocolate branco com corante azul. É para o aniversário de treze anos de uma menina; o tema é Percy Jackson. Só não entendi o porquê dessa cor.

— Referências à história, mãezinha.

Me junto a minha irmã depois de preparar minha caneca de capuccino e uma torrada com geléia — com pão normal. Nós três conversamos sobre diversas coisas; a escola, o trabalho, a nova paixonite da minha irmã. Depois de acabar o café da manhã, lavo a louça que sujei e subo para o meu quarto. Tenho umas tarefas de geografia para fazer, e é bem melhor fazer agora do que depois. Assim posso tirar o resto do dia para fazer nada.

                                     °°°°°

Estou deitada no sofá assistindo um filme, quase caindo no sono, quando Ariana e Lysandre decidem me interromper. Minha irmã saiu há duas para encontrá-lo, e eu não esperava que estivesse de volta antes do anoitecer. Ouço suas vozes antes de vê-los de fato, me sentando rapidamente, totalmente desperta. Ainda estou de pijama e não penteei o cabelo; não posso deixar que Lysandre me veja desse jeito! Os passos dos dois estão cada vez mais perto, então trato de me apressar e correr escada acima, até o meu quarto.

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