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[ 28 de maio, quarta-feira ]




  Com a aproximação do verão os dias e noites têm estado bem mais quentes, e é por essa razão que estou usando apenas um short leve de pijama e sutiã enquanto leio. Ainda assim estou suando, mesmo com o cabelo preso. Precisamos comprar um ventilador urgentemente, ou não seremos capazes de sobreviver aos próximos três meses.

  Balanço os pés no ar enquanto meus olhos viajam pela página amarelada e Grace Kelly soa através dos fones de ouvido. Tenho que reler uma frase vez ou outra porque a música me distrai, mas prefiro isso ao silêncio. Ficar sozinha numa casa silenciosa me causa arrepios. Ao menos, agora, posso culpar o gato por qualquer ruído minamente estranho — a não ser que ele esteja deitado ao meu lado na cama, como nesse momento.

  De repente, alguém desfere um tapa forte na minha bunda. Me viro em um sobressalto, sentindo o coração na garganta e assustando o T'Challa. Castiel solta uma gargalhada enquanto pauso a música e volto para a posição original, bufando de irritação.

  — Foi mal, não resisti — ele diz, se curvando para depositar um beijo logo acima do cós do short. — Uma tatuagem ficaria ótima aí. Que tal um coração com meu nome dentro?

  — Vai sonhando — replico, virando a página. — Voltou cedo.

  — Como assim? São dez e meia.

  — É, mas você entrou às sete, não foi?

  — Só tive que praticar o canto hoje — explica, se empoleirando em cima de mim. Seu abdômen desnudo toca minhas costas e posso sentir o tecido leve da bermuda contra minhas coxas. — O que está lendo?

  — O Corpo, do Stephen King.

  — Ele não faz histórias de terror? Você odeia terror.

  — Essa não é. Lembra quando assistimos Conta Comigo? Foi baseado nesse livro.

  — Legal, o filme é bom.

  — Pode sair de cima de mim? — peço, me remexendo. — Estou suando horrores, está quente demais.

  — Está mesmo, então tenho uma proposta pra te fazer — ele me liberta e nos sentamos de frente um pro outro. — Tem uma casa a venda na rua de trás.

  — E?

  — E tem uma piscina no jardim dos fundos, pelo o que eu soube, e a família que está vendendo saiu de lá hoje. A casa está completamente vazia, podemos ir nadar um pouco.

  — Ficou maluco? Não podemos invadir uma casa, Castiel, isso é totalmente ilegal.

  — Só se formos pegos. Além do mais, não vamos roubar nem vandalizar nada. É um desperdício não usar uma piscina perfeitamente boa num calorão desses.

  — Pode ser, mas ainda é invasão domiciliar — tento racionalizar. — Você está construindo uma carreira, acha que é o melhor momento para se encrencar com a polícia? Tenho certeza que o pessoal da gravadora não iria gostar nada disso.

  Castiel revira os olhos de maneira exagerada, jogando a cabeça para trás e grunhindo. Cruzo os braços e comprimo os lábios.

  — Qual é, Greene, relaxa um pouco. Prometo que nada vai acontecer, tá legal? É só não fazermos muito barulho. Meia hora, ok? Nadamos por meia hora, então voltamos para casa.

  — E se alguém nos ver?

  — É tarde da noite de uma quarta-feira, está todo mundo dormindo ou trabalhando a essa hora. E aí?

  Suspiro enquanto penso. Sei que não somos ladrões nem nada do tipo, mas o ato de invadir por si só já é um crime e já tive aventuras o suficiente com a polícia esse ano. Não que eu pretenda parar na delegacia em algum outro ano. Por outro lado, está quente demais e não tem nem um ventinho passando pela janela. Se a casa está vazia, não vamos incomodar ninguém, certo?

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