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[ 04 de fevereiro, sexta-feira ]




  Cinco dias se passaram e todos eles são como um borrão para mim. Tenho feito tudo no automático; me levantar pela manhã, tomar banho, ir para a escola, comer e trabalhar. Chorei tanto nas últimas 120 horas, que temo não haver mais nenhuma gota de água em meu corpo. Também tenho dormido pouco, o que faz com que eu me canse facilmente — as bolsas debaixo dos meus olhos estão horríveis. Se tivessem me avisado antes que terminar um relacionamento machucava tanto, eu nunca teria me envolvido em um. 

  Não posso dizer que não me arrependo nem um pouco da minha decisão, que cada fibra do meu ser não implora para eu correr até o apartamento e pedir para voltarmos ao que éramos antes, mas não farei isso. Não por ora. Sei que estou longe de ser perfeita, mas não posso ficar com Castiel se ele continuar agindo dessa maneira. Ele precisa aprender a se controlar, a ouvir e refletir antes de agir, não depois. Ele nem quis saber o que aconteceu realmente antes de partir para a agressão. Porém, quando e se Castiel mudar esse aspecto ruim de sua personalidade, não pensarei duas vezes antes de correr de volta pros seus braços. 

  Nossa edição da i-D foi lançada há quatro dias, e eu só soube porque Leigh telefonou para me parabenizar. Meus pais compraram um exemplar no mercado, mas eu não quis ver. Também não houve nenhuma comemoração; o término afetou o humor de todos que são próximos de nós — embora eu tenha certeza de que meu pai esteja um tantinho aliviado. 

  Não tive nenhum tipo de contato com Castiel durante a semana. O procurei inconscientemente na escola todos os dias, principalmente durante o intervalo, mas não vi nem sinal dele. Provavelmente estou sendo evitada. Estou com tanta saudade dos seus beijos, suas ligações, seu cheiro, que a dor chega a ser quase física. Acho que apenas um vislumbre de seu rosto poderia me apaziguar um pouco. 

  Termino de servir uma mesa onde um casal de idosos está sentado, e desabo em dos bancos do balcão. Não demora muito para Keith se juntar a mim. Ele coloca a mão no meu antebraço, afagando a pele com o polegar, e me oferece um sorriso de compaixão. 

  — Estou detestando te ver assim. 

  — Estou detestando me sentir assim — suspiro. — Será que fiz a coisa certa? 

  — Eu não sei, Ari, mas sei que teve seus motivos. E sei que de um jeito ou de outro as coisas vão se resolver. 

  Balanço a cabeça positivamente. 

  — Você tem visto o Castiel? 

  — Tenho, sim. Deixei que ele esfriasse a cabeça durante o resto do fim de semana, crente de que ele não queria me ver. Quando fui até o apartamento na segunda, no entanto, ele mal abriu a porta antes de desmoronar nos meus braços — Keith penteia o cabelo para trás com os dedos. — Nunca pensei que fosse ver o Castiel chorar tanto. Ele está tendo um sofrimento pós-término digno de um filme. Está bebendo muito e se entupindo de porcaria. 

  — Que merda — enterro o rosto nas mãos. — Eu me sinto a pior pessoa do mundo. 

  — Vocês se amam, Ari. Seria estranho se o Castiel não estivesse sofrendo. 

  —É, mas isso já é prejudicial. 

  — Não dormir também é, senhorita olheiras profundas — ele cutuca o ponto abaixo do meu olho esquerdo. — E imagino que não esteja comendo direito, parece mais magra. 

  — Tem um nó permanente no meu estômago que não me deixa ingerir coisas demais. Nunca se apaixone, Keith. O amor é uma droga. 

  — Tá legal — ele concorda, rindo baixinho, então fica sério outra vez. — Ari, será que você não pode falar com o Castiel? Ele matou aula a semana inteira, pode acabar repetindo o ano se continuar assim. 

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