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[ 10 de janeiro, segunda-feira ]



  — Você acha que eu sou bonita? 

  Keith está prestes a pegar uma batata frita, mas interrompe o movimento e me encara com olhos desconfiados. Ele não corta o cabelo há um tempo e as madeixas loiras rebeldes o fazem parecer um tanto quanto fofo, o que eu tenho certeza que deve incomodar Castiel um pouquinho. 

  — Essa é uma daquelas perguntas armadilha? 

  — O que é uma “ pergunta armadilha ”? 

  — Você sabe, uma pergunta em que não importa o que eu responda, você vai ficar chateada e jogar esse frapuccino em mim. 

  Reviro os olhos. Homens são tão bobos. 

  — Não vou fazer nada disso — garanto. — É só uma coisa que passou pela minha cabeça.
 
  — É claro que você é bonita, Arianinha — ele enfia uma batata na boca. 

  — Bonita o suficiente pra namorar um astro do rock? 

  — Que astro do rock? Bon Jovi? Acho que ele é meio velho.

  — Não, bocó, o Castiel. 

  Keith ri. 

  — O cara é bom, mas astro do rock já é exagero. E falo isso como um membro da banda — ele enfia mais um punhado de batatas na boca e toma um gole de refrigerante sem engolir primeiro. — Mas por que a pergunta? Você não me parece o tipo que se preocupa com a aparência.

  — O que isso significa?! 

  — Só estou dizendo que você sempre usa o que quer sem se importar muito com o que os outros pensam. 

  — Eu me preocupo. Às vezes — bebo um pouco do frapuccino pelo canudo. — Debrah estava falando sobre como Castiel pode querer me trocar por alguém melhor se a Crowstorm estourar. Uma garota mais bonita e bem sucedida. É besteira, eu sei, mas fico remoendo isso o tempo todo. 

  — Ah, com certeza é besteira. Primeiro porque Castiel não faz o tipo fútil, precisaria muito mais que beleza e dinheiro para que ele te trocasse por alguém; e segundo porque vocês tem só dezoito anos, não é? Quase ninguém é bem sucedido nessa idade. É besteira ficar esquentando a cabeça quando nem sabemos se a Crowstorm ficará tão famosa quanto esperamos — mais batatas, dessa vez com uma camada de catchup. — Mas enfim, você é linda. A colega de trabalho mais gata que já tive. E a mais legal também. 

  — Tá bom, agora é você quem está exagerando — esboço um sorriso tímido, prendendo o canudo entre os dentes. 

  — Não, é sério. Eu passei nossa primeira semana de trabalho com uma paixonite ridícula por você. Não notou? 

  — Não, eu nunca acho que alguém está interessado em mim. Além do mais, se durou só uma semana, não devo ser tão incrível assim — provoco.
 
  Keith faz uma careta, então uma batida animada começa tocar na jukebox e sua expressão se ilumina. A jukebox fica ligada durante as seis horas em que ficamos aqui, normalmente em um volume baixo para não incomodar os clientes, mas o som parece alto e claro agora que estamos sozinhos. Meu amigo loiro se levanta, corre para aumentar o som e volta para perto da mesa, estendendo a mão para mim.

  — Chega desse papo deprê, vem dançar comigo.

  — Eu não danço — balanço a cabeça. 

  — Qual é, é I Wanna Dance With Somebody! Você não pode ouvir essa música e não dançar, é tipo uma ofensa pra Whitney Houston. 

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