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[ 27 de abril, segunda-feira ]



    Foi divertido passar o fim de semana em um hotel — apesar de não termos pisado fora do quarto —, mas é bom estar de volta em casa. O exterminador nos garantiu que todos os organismos vivos indesejados que estavam se escondendo pelos cantos foram eliminados, o que é um grande alívio. Estamos arrumando nossas coisas no guarda-roupas quando ouvimos batidas na porta e trocamos um olhar. São quase nove da noite.

    — Deve ser o Keith — digo. — Ele não voltou pro Hummingbird hoje. Adoro o Toby, mas confesso que fiquei um pouco decepcionada.

    — Nos livramos de uma praga e já apareceu outra.

    — Não fala assim.

    Mais batidas. Me disponho a atender a porta e, de fato, é o Keith. Estou pronta para fazer uma piadinha sobre ele não ter invadido o apartamento, como já fez várias vezes, então noto a expressão desolada em seu rosto. Não tenho tempo de dizer nada antes que ele desabe em meus braços, ainda na porta. Eu o abraço de volta com preocupação.

    — Estou arrasado, Ari — ele diz com voz de choro. — Puto e arrasado.

    — O que aconteceu?

    — A sociedade neandertal imunda e imbecil em que vivemos aconteceu — Keith interrompe o abraço. Algumas lágrimas escorrem por suas bochechas. — Me sinto tão puto, tão chateado, tão... tão... impotente! Eu nunca tinha passado por uma coisa assim, mas o Leigh parecia tão acostumado, Ari. Ver a falta de reação dele, a expressão de quem já havia ouvido tanta porcaria que aprendeu a ignorar, me quebrou. Eu quis brigar de volta, eu juro que quis defender nós dois, mas os caras eram enormes e o Leigh não parecia disposto a ajudar.

    — Calma, tá legal? — peço com suavidade. Ele falou tão rápido que não entendi bem a história. — Entra e me conta direito o que aconteceu. Quer beber alguma coisa? Um chá de camomila, talvez.

    Keith assente.

    — Obrigado.

    Posso ver Keith no sofá enquanto coloco água para ferver. Ele encara o chão e chora silenciosamente, deixando que as lágrimas se acumulem no maxilar e caiam sobre a calça. Sinto um aperto no peito. Seja lá quem o tenha deixado nessa situação, com certeza não é uma pessoa boa.

    Castiel aparece na porta do quarto. Nossos olhos se encontram e ele faz uma pergunta silenciosa: o que houve? Encolho os ombros. Não sei direito. Cadê ele? Indico o sofá com a cabeça. Castiel se aproxima com passos firmes e cuidadosos.

    — Qual o problema? — pergunta, assustando o loiro. — Por que está chorando?

    — Porque, aparentemente, sou a porra de uma aberração depravada só por segurar a mão do meu namorado na rua.

    Oh.

    Merda.

    Despejo a água quente em um caneca, mergulho o saquinho de chá e levo para o Keith. Ele agradece.

    — Quem disse essa merda?

    — Uns idiotas. Senti tanta vontade de arrebentar a cara deles!

    — E por que não arrebentou?

    — Porque eu sou pequeno e magrelo, e eles eram três — ele toma um gole do chá. — Leigh nem olhou na direção deles, só apertou minha mão e continuou andando, fingindo que não podia ouvir eles nos chamando de bichas, viados e mandando a gente se matar! Disseram que é um absurdo gente como nós poder viver livremente por aí!

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