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[ 28 de setembro, sábado ]






— O que está fazendo aqui? 

É o que pergunto quando Castiel passa pela porta. Seu tempo de repouso pós cirurgia ainda não acabou, então ele obviamente não deveria estar em nenhum outro lugar que não seja seu apartamento. O ruivo passa batido por mim, como se não tivesse me visto ou ouvido, e desaba em um dos bancos. Vou para trás do balcão, observando-o enterrar a cabeça nas mãos. Ele fica nessa posição durante um tempo, e estou prestes a cutucá-lo quando ele abaixa as mãos. Seu olhar é meio confuso e nublado.

— Greene? Por que está na minha casa? E vestida assim?

— Aqui é o Hummingbird — respondo devagar. 

— O que? Como cheguei aqui? — ele olha ao redor de forma alarmada. 

— Espero que não tenha sido dirigindo, porque está bem claro que você não está em condições pra isso. O que está fazendo fora de casa, aliás? Deveria estar repousando.

— Sei lá. Eu só me lembro de ter acordado à tarde e tomado uns remédios pra dor.

— Ah, que bom. Está dopado.

A surpresa que havia tomado Castiel há poucos minutos parece ter se dissipado, e seus olhos viajam pelo ambiente de forma lenta e curiosa. Agora a necessidade de repouso faz todo o sentido; se os medicamentos o deixam nesse estado, não é seguro que ele saia por aí. Balanço a mão devagar na frente do rosto dele para chamar sua atenção. 

— Como está sua boca? 

— Doendo.

— Mesmo com os remédios? 

— É. Pode me dar um café? 

— Só se for gelado. 

— Eu te odeio. 

Reviro os olhos e, apesar de sua atitude hostil, lhe preparo um suco de maracujá sem gelo. Estamos em pleno outono e hoje está um bocado frio, mas não posso servir uma bebida quente e correr o risco de machucar suas gengivas  machucadas. Castiel encara o copo com desdém, depois olha para mim com uma careta emburrada e coloca o canudo na boca. Sorrio, satisfeita. O líquido é consumido rapidamente, então peço que o cozinheiro prepare um mingau de aveia. Preciso manter Castiel aqui até que ele esteja sóbrio o suficiente para ir para casa em segurança.

— Que merda é essa? — o ruivo pergunta quando coloco a tigela a sua frente, revirando o conteúdo morno com a colher.

— Mingau de aveia.

— Parece que você vomitou aqui — declara, enojado. — Quero outra coisa. Algo que tenha sabor.

— Não tem nenhuma outra coisa que você consiga comer com esses pontos na gengiva, sinto muito.

— Você é cruel. Fique com essa porcaria, eu vou embora.

Castiel fica em pé de forma cambaleante, quase perdendo o equilíbrio, e parte para fora com uma mão na cabeça. Uma seringa bem grande e cheia de tranquilizante viria bem a calhar nesse momento. Corro atrás do ruivo — que está andando bem rápido pra alguém dopado de analgésico, diga-se de passagem —, e bloqueio seu caminho no estacionamento. Sua moto está estacionada de um jeito totalmente torto não muito longe, mas ele não estava indo em direção a ela. Não acredito que esse maluco veio pilotando! 

— Ei, ei, ei! Aonde pensa que vai? 

Castiel dá uma olhada confusa ao redor, depois me encara com as sobrancelhas franzidas. Que droga de remédio é esse que o médico receitou?! Deve ser algo bem forte para deixá-lo desse jeito. Ficamos algum tempo em silêncio — Castiel aparentemente ponderando sobre qual será seu próximo movimento —, até que uma rajada de vento frio nos atinge e, no momento seguinte, o ruivo está agarrado em mim como uma preguiça num galho. 

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