66

832 105 220
                                    

[ 15 de janeiro, sábado ]





  Assim que nos damos conta do que houve Leigh aperta o botão de emergência, que emite um brilho vermelho. Não acredito que isso está acontecendo! Nada acontece por vários minutos, até que ouvimos uma voz masculina vinda do outro lado das portas metálicas. O homem diz que houve uma queda de energia e que fará o possível para nos tirar daqui o mais rápido que der. Deslizo pela parede até me sentar com os joelhos dobrados, e escondo o rosto com os braços. Já passa das nove e não temos como entrar em contato com Dallas porque nossos celulares estão sem sinal. 

  — Vai ficar tudo bem, Ari — Leigh tenta me consolar. Sinto-o se sentar ao meu lado. — Tenho certeza de que ficaremos aqui por pouco tempo. 

  — Vamos perder a reunião — minha voz sai abafada. — Hoje era para ser um dia incrível, agora estou brigada com Castiel e vou perder a melhor oportunidade que já me apareceu até agora. 

  — Vamos dar um jeito nisso — ele apóia uma mão no meu ombro. — Com certeza faltou energia no prédio inteiro, Dallas deve imaginar que algo aconteceu. Tenho certeza que ele te dará outra oportunidade. 

  — E se não der? 

  — Então algo melhor virá. É como dizem: onde uma porta se fecha, outra se abre. Não fique chateada. 

  Mas é difícil não ficar. Essas coisas vivem acontecendo comigo. Me apaixonei por um garoto que gosta da minha irmã, não consegui comprar os ingressos para o show do Simple Plan, fui impossibilitada de ir à feira da renascença por causa da chuva e, agora, faltou eletricidade poucos minutos antes de eu conseguir um trabalho incrível. Sei que estou reclamando de barriga cheia, como meu pai costuma dizer, porém me permito ficar frustrada. Não há nem sinal de mau tempo lá fora, então quais as chances de a energia cair justo nesse momento?

  Ficamos vários e vários minutos em silêncio. Confiro as horas de tempos em tempos; setenta minutos se passam sem que tenhamos qualquer notícia do tal homem que disse que nos tiraria daqui rapidamente. Também não conversamos muito durante esse meio tempo, e nossos celulares continuam sem rede. Em algum momento me deito e apóio as pernas da parede. Cansei de ficar de pé e cansei de ficar sentada. Leigh não muda muito de posição. 

  — Isso daria um filme — ele diz, de repente. — Tipo um Clube dos Cinco, mas em um elevador. E sem pausa pro banheiro. 

  — Argh, nem me fale em banheiro. Espero que não passemos oito horas aqui. 

  — Também espero, ou será um dia totalmente perdido. 

  — Caramba, é mesmo! E os negócios que você tem pra resolver? 

  — Se formos liberados até meio dia, terei tempo de fazer o que preciso. 

  Voltamos ao silêncio. No geral, assim como Lysandre, Leigh é uma pessoa fácil de se conversar, mas acho que nenhum de nós sabe o que dizer agora. Pode ser que ele esteja tão frustrado quanto eu, afinal, passou quatro horas dirigindo antes mesmo de o sol nascer. 

  — No filme eles aproveitam o tempo para conversar e se conhecerem melhor. Poderíamos fazer isso.
 
  — Eles também brigam, choram e usam maconha. 

  — Isso pode ficar para uma próxima vez — ele sorri. — Conversar vai ajudar a matar o tempo. Podemos até revelar pensamentos íntimos, se você quiser. Vi que isso é capaz de fazer dois indivíduos se sentirem mais próximos. 

  — Eu não sou muito boa em me abrir com as pessoas — respondo monótonamente, encarando o teto do elevador. — E não sei se tenho mesmo algo a dizer. Minha infância foi boa, minha família é legal. Tenho poucos amigos, mas eles são maravilhosos. Eu gosto de ficar sozinha, muito contato físico me irrita e não gosto da ideia de beijar alguém só pelo simples prazer de trocar saliva. Quer dizer, sei lá. Francamente, não consigo expressar meus sentimentos em palavras na maior parte do tempo. Não importa o quanto eu fale, parece que sempre falta alguma coisa. 

YouOnde histórias criam vida. Descubra agora