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[ 05 de janeiro, quarta-feira ]




Estou me preparando para sair do quarto quando Castiel entra. Trinta minutos se passaram em completo silêncio. Nós ficamos parados, um de frente pro outro; eu o olhando com expectativa, e ele sem saber como começar. Depois de abrir e fechar a boca algumas vezes, uma palavra decide sair:

- Desculpa.

- Tudo bem.

Eu odeio a tensão que nos cerca agora; isso não acontecia nem mesmo quando não nos suportávamos. Talvez esse seja o diferencial. Discutir com alguém que amamos nos afeta infinitamente mais do que discutir com qualquer outra pessoa.

- Eu agi como um idiota - ele continua. - Sei que morarmos juntos seria uma grande mudança e que não dá para decidir uma coisa assim tão rápido.

- Tem razão, não dá. É um passo grande demais, Castiel - digo suavemente. - Eu não me oponho a ideia, ok? Mas tenho medo.

- Eu também tenho, Greene. Eu sei que muitos relacionamentos mudam para pior quando os indivíduos passam a viver sob o mesmo teto, estejam oficialmente casados ou não.

- Exatamente...

Ele me interrompe, levantando a mão.

- O futuro é incerto, Greene, eu sei. As coisas podem mudar de uma hora pra outra, mas eu te amo o suficiente para querer tentar. Talvez dê certo, talvez não, mas não vamos descobrir se não fizermos nada. E daí se somos jovens? Sabe quanta gente começa nessa idade? - Castiel fica em silêncio por um instante, como se estivesse deixando suas palavras acentarem na minha mente. - Vamos fazer um teste, está bem? Não pense nisso como casamento, porque não é. Pense que seremos colegas de quarto, se isso te fizer se sentir melhor. Só pense no assunto. Tudo bem se não quiser. Vai me chatear, mas a escolha é sua. Só, por favor, não volte a duvidar do que sinto por você porque isso dói demais.

Não consigo parar de olhar para ele. Castiel parece tão vulnerável nesse momento que eu gostaria de poder colocá-lo numa caixinha e protegê-lo contra tudo. Nós sempre procuramos ser sinceros um com o outro, mas essa é a primeira vez que rola esse tipo de sinceridade. Apesar de sua voz ter se mantido firme e estável durante todo o discurso, posso ver lágrimas em seus olhos. E me sinto horrível. Castiel nunca chora, e não vou suportar se ele fizer isso por causa de uma dor que eu lhe causei.

- Eu não duvido do que você sente - declaro, diminuindo a distância entre nós. - Nunca foi minha intenção te fazer pensar isso. Eu não duvido. Me desculpe por te magoar. Prometo que vou pensar na sua oferta, está bem? Vamos conversar melhor sobre esse assunto.

Só percebo que estou chorando quando o ruivo segura meu rosto com ambas as mãos e seca minhas lágrimas. Eu o abraço, encostando a cabeça em seu peito, e Castiel deposita um longo beijo em meus cabelos. Ficamos assim por vários segundos, em silêncio.

- Nossa primeira briga - o ruivo diz por fim, e não preciso ver seu rosto para saber que está sorrindo. - Desde que começamos a namorar, claro.

- Nem foi uma briga grande e eu detestei. Por favor, não vamos fazer de novo.

- Você quer que nós não briguemos? É mais fácil conjurar um dragão cuspidor de fogo.

Rimos. Castiel seca minhas últimas lágrimas com as mangas do casaco.

- Bom, o que vamos fazer agora?

Paro para pensar.

- A gente nunca usa sua banheira. Nós podíamos enchê-la com água quente e relaxar um pouco, que tal?

Castiel abre um sorriso malicioso, deslizando as mãos para cima e para baixo sobre minhas costelas.

- Gostei da ideia. Vai abrindo a torneira que eu vou pegar minha touca de banho.

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