[ 29 de março, segunda-feira ]
Assisto Keith conferir o celular de um em um minuto, inclusive enquanto atende os fregueses, com certeza esperando por uma mensagem do Leigh. Ele esteve assim durante todo o fim de semana, desde que os Frey anunciaram que estavam indo para o interior. Lysandre já disse que o pai está bem melhor, então não entendo porque o loiro parece tão desesperado. Não é como se ele e Leigh conversassem vinte e quatro horas por dia habitualmente.
Um homem em uma mesa do canto levanta a mão com cara de poucos amigos. Me preparo para ouvir qualquer que seja a reclamação enquanto caminho até lá com um sorriso simpático, como manda o protocolo de serviço.
— O que o senhor deseja?
— Meu pedido está errado — ele informa, insatisfeito, apontando para o prato onde há um croissant mordido. — Eu queria um croissant com recheio de frango, não de chocolate.
— Oh, claro, me desculpe. Trarei o pedido certo em um minuto.
Recolho o prato da mesa e já lhe dei as costas, quando o homem diz:
— Diga para o garoto largar a porcaria do telefone e fazer o serviço direito.
Respiro fundo e sigo em frente sem oferecer uma resposta. Keith está errado, mas não gosto que o tratem com grosseria. Ele não é um funcionário ruim, só está distraído. O homem não agradece quando lhe entrego o croissant certo, e eu reviro os olhos quando torno a me afastar. Quase trombo com Keith ao me aproximar do balcão; ele tenta equilibrar a bandeja às pressas, o celular na mão. Felizmente, nada cai.
— Foi mal, Arianinha, eu não te vi. Machucou?
— Não, tudo bem. O que você tanto olha nesse celular?
— Estou falando com o Leigh — ele deixa a bandeja sobre o balcão, checa o telefone e o guarda no bolso do avental. — Quer dizer, mais ou menos. Ele está fazendo umas coisas na fazenda pro pai poder descansar.
— Lysandre disse que o pai está melhor.
— É, mas ele já é idoso. Leigh tem medo que ele pegue no pesado muito cedo e acabe indo parar no hospital de novo — mais uma conferida no celular. — Ele manda uma boa quantia de dinheiro pros pais todo mês, não sei porque os dois só não desfrutam da velhice.
— Pessoas que vivem no campo costumam gostar de ser ativas.
— Pois se eu tivesse um filho rico ficaria só deitado na rede, ou caçando seres mitológicos na mata. Nada de trabalho.
Solto um riso debochado.
— Até parece que você teria coragem de se embrenhar no meio do mato pra caçar criaturas assustadoras. E desde quando conversa tanto com o Leigh?
— Nós somos amigos, você sabe.
— Sei, mas não sabia que se falavam tanto assim. Você passou o fim de semana todo grudado no telefone.
— Só quero garantir que está mesmo tudo bem. Seria uma tragédia se acontecesse algo com o pobre velho e o Leigh não tivesse com quem falar.
Keith deve acreditar que sou muito ingênua se pensa que cairei nessa história. Se algo acontecesse com o pai, Leigh obviamente se preocuparia com Lysandre e a mãe primeiro, não com a gente. Provavelmente só ficaríamos sabendo horas depois, quando a poeira abaixasse um pouco. Um ting. Keith pega o telefone rapidamente, e um sorrisinho discreto surge em seus lábios enquanto seus dedos viajam habilidosamente pelo teclado.

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أدب الهواةNOTA: ESSA HISTÓRIA CONTÉM ERROS DE DATA QUE SERÃO CONSERTADOS POSTERIORMENTE - Você me ignorou a semana inteira - reviro os olhos. - Sua amiga deve estar te esperando. Vai embora. Tento fechar a porta, mas meus movimentos estão lentos demais, ent...