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[ 25 de maio, domingo ]




  A manhã não parece diferente quando abro os olhos. Nada parece. Já fiz vários aniversários e sei que não é assim que a banda toca, mas estou dando mais um passo para a vida adulta e esperava me sentir mais... maduro. Ou um pouco diferente de qualquer jeito. Porém continuo o mesmo Keith de sempre — mais baixo do que eu gostaria e com a mentalidade de alguém que acabou de se formar no ensino médio. Não piso numa escola há uns cinco anos, mas às vezes acho que ainda não saí da adolescência. Talvez seja assim com todo mundo. Talvez todo adulto seja um adolescente disfarçado. Ninguém sabe exatamente o que está fazendo e para onde vai, né?

  E aparentar ter dezessete anos aos vinte e dois não me ajuda nada. Ok, não dezessete; talvez dezoito ou dezenove. Vinte, no máximo. Argh, estou apenas sendo dramático e rabugento porque acabei de acordar. Jake e Mark também não parecem ter exatamente mais de vinte anos — estamos todos no mesmo barco.

  Pego meu celular debaixo do travesseiro. Passa das nove, já devo ter recebido algumas felicitações. Notificações do Instagram indicam que fui mencionado em algumas publicações. A primeira é da Ari, postada há quarenta minutos no story, uma foto nossa tirada ontem à noite com os dizeres " I don't know about you, but I feel like 22 🎶 Happy bday, Kitty ". Jogo de palavras ou correção ortográfica automática? Não sei, mas é fofo. Também tem um post do Mark, do Jake e de uns parentes. Uma notificação de mensagem desce na tela, tem o nome do Castiel e diz: " Parabéns, idiota. Feliz sei lá quantos anos cê tá fazendo ". Rio e respondo " Sem post fofinho de bff então?? :( ". Uma ligação do Leigh brota antes de uma resposta do Castiel.

  — Alô? — começo depois de arrastar o botão verde.

  — Bom dia, é o aniversariante mais lindo da cidade falando? — a voz dele soa alegre do outro lado.

  Me espreguiço, virando de barriga para cima.

  — Da cidade? Isso implica que existem aniversariantes mais bonitos em outros lugares? — provoco, sorrindo.

  — Hm... Talvez. Nenhum com sardas tão charmosas, no entanto.

  — Uau, Leigh, tão romântico. Essas são as palavras de um cavalheiro?

  Ele dá uma risadinha.

  — Você não acabou de parafrasear Elizabeth Bennett, acabou?

  — Ainda acho que quis mandar alguma indireta quando me fez assistir aquele filme. Você é rico, eu sou pobre e tenho uma mãe maluca... Quer me dizer alguma coisa?

  — Sim, na verdade, quero. Senhor Hartwell, apesar do pouco decoro mostrado por sua mãe e um de seus amigos, devo admitir que o amo ardentemente.

  Sei que é brincadeira, ainda não chegamos a fase do ' eu te amo ', mas meu coração erra uma batida mesmo assim. Pode ser porque ele disse isso no mesmo tom que o Sr. Darcy usa e, por mais que eu tenha ficado confuso durante o diálogo, é de derreter o coração. Engulo em seco.

  — Nada de posição social ou bom senso?

  — Você é um músico em ascensão, meu bom senso está em dia.

  — Você não é exatamente um fã do tipo de música que a Crowstorm produz.

  — Não, mas sou um grandíssimo fã do Keith.

  Sorrio pela breguice.

  — Enfim, senhor aniversariante, quais os planos para hoje?

  — É domingo. Pretendo mofar na cama o dia todo.

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