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[ 29 de janeiro, sábado ] 




  Como não me juntei à comemoração na quinta, eu e os garotos decidimos tomar café da manhã juntos em uma padaria nova que fica perto do shopping. Três deles já estão lá quando chego, faltando apenas o Castiel. Keith indica a cadeira ao seu lado e pergunta como estou. A bem da verdade é que estou ansiosa — do jeito ruim — para contar sobre o beijo pro Castiel. Mais uma vez dormi pouco durante a noite, tendo o sono interrompido toda hora por sonhos desagradáveis e preocupados, e minhas entranhas estão geladas. 

  Ao contrário dos rapazes, não espero meu namorado chegar antes de pedir um copo de suco de maracujá — o maior que tiver, especifico ao garçom. Costumo preferir o bom e velho café pela manhã, mas dada a situação em que me encontro, é melhor dar preferência a uma bebida calmante. Estou na metade do copo quando o ruivo chega, e ele não parece muito feliz. Ótimo. Castiel se acomoda ao meu lado e me dá um beijo rápido como cumprimento. 

  — Tudo bem? — pergunto. — Parece irritado. 

  — E estou. Não são nem nove da manhã e eu já tive que lidar com aquele encosto da Debrah. 

  — Debrah? — fico reta no assento, tirando as costas do encosto. — Onde a encontrou? 

  — Ela apareceu lá em casa com uma história ridícula. Essa garota tem que vazar logo. 

  — Que história? 

  — Quem é Debrah? — Mark pergunta. 

  — Ninguém importante — Castiel responde, então se volta para mim: — E nem vale a pena contar. 

  — Bom, então vamos pedir? — Keith sugere. 

  Deixo que todos escolham e façam seus pedidos antes de insistir: 
  
  — O que ela te disse? 

  — Quer mesmo saber? — o ruivo pergunta de volta, e eu balanço a cabeça afirmativamente. — Ok. Ela inventou uma besteira patética de que você e o Lysandre se beijaram. Como se eu fosse acreditar nisso. Já que ela quer ser uma filha da puta, deveria, no mínimo, ser mais criativa. 

  Se antes minhas entranhas estavam geladas, agora elas viraram gelatina. Fico travada. Então era sobre isso que Debrah e a amiga estavam cochichando no Hummingbird, e a cobra não esperou para soltar a língua. Vejo Keith se mexer desconfortavelmente através da visão periférica. Um clima estranho se instala no ar e todos notam, inclusive Castiel, que fica rígido na cadeira. Meu coração começa a bater tão rápido que parece que bebi um litro de cafeína pura, e não suco de maracujá. 

  — Greene — Castiel começa. Sua voz é dura e chorosa ao mesmo tempo, como se ele soubesse exatamente qual é a resposta e não quisesse acreditar. —, isso é mentira. Né? 

  Não consigo responder. Olho para o Keith; suas sobrancelhas estão curvadas para cima. Se minha própria expressão não entregou o jogo, a dele o faz. Mas Castiel não está olhando para ele, está olhando para mim; e seus olhos imploram para que eu diga que sim, é mentira, e por um segundo chego a cogitar fazer isso. 

  — Não é? — seu tom é mais firme dessa vez. 

  — Eu posso explicar — respondo. 

  No mesmo instante, Jake e Mark se entreolham e saem da mesa. Minhas palavras dizem tudo o que eles precisam saber. Castiel passa ambas as mãos pelo cabelo e pelo rosto com irritação antes de voltar a atenção para mim. 

  — É verdade — constata, se levantando. 

  — Não foi como você está pensando — declaro com um fundo de desespero. — Nós não nos agarramos nem nada do tipo, não foi...

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