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[ 21 de janeiro, sexta-feira ]






  São oito horas da manhã quando Leigh abre a porta para me receber. Está cedo para uma visita, eu sei, mas queria pegá-lo antes que saísse para trabalhar. Ele ainda está de pijama — uma calça xadrez azul e preta de algodão e uma camiseta branca —, o cabelo está bagunçado e parece sonolento. 

  — Oi — cumprimento, um pouco sem jeito. 

  — Oi — Leigh responde, surpreso. 

  — Eu trouxe um cheesecake de desculpas. Sei que devia ter trazido comida de café da manhã, porém o que eu fiz pedia mais que panquecas ou cereal. 

  Seus olhos escuros descem para a embalagem em minhas mãos, como se só agora a tivesse notado. Ele passa a mão pelo cabelo e dá um passo para trás, abrindo espaço.

  — Entre, por favor — faço como é pedido. Leigh fecha a porta e se volta para mim, coçando a nuca. Parece confuso. — Desculpe, mas pelo que está se desculpando? Eu acabei de acordar, nem todos os meus neurônios estão despertos. 

  Respiro fundo, envergonhada. 

  — Estou falando sobre ter jogado suco de abacaxi em uma das roupas e por ter, você sabe, vomitado no jardim. Eu estava muito irritada, mas devia ter me controlado. 

  — Ah, isso — ele assente devagar, comprimindo os lábios. — O que aconteceu exatamente? Tudo o que a Debrah disse é que você tinha surtado de repente. Eu te conheço mais do que conheço ela, então decidi acreditar na sua versão dos fatos. 

  — Obrigada. É uma história um pouco longa. 

  — Tudo bem, nós temos tempo — Leigh gesticula para que adentremos mais a casa. Nos dirigimos até a cozinha, onde ele vai direto para o freezer. — Está muito cedo para comer esse cheesecake com sorvete? 

  — Nunca é cedo demais para cheesecake com sorvete. 

  Me sento em uma das cadeiras cor de chumbo e apenas observo enquanto Leigh pega um pote de sorvete de chocolate, dois pratos de sobremesa e alguns talheres. Ele serve um pedaço de cheesecake para mim e deixa que eu decida quanto sorvete vou querer. Não sei se deveria comer algo assim logo pela manhã, mas tomei o remédio pro estômago ontem à noite e hoje, antes de sair de casa, e ainda não tive nenhum enjôo. Se foi realmente o sushi que me causou todo aquele mal estar, provavelmente já me livrei da maioria dos resquícios dele. Acho que posso me aventurar com um pouco de doce. 

  — Sabe do que mais? — o homem diz, equilibrando uma grande bola de sorvete sobre a fatia triangular. — Seja lá o que tenha acontecido ontem, gerou um burburinho e tanto. 

  — Sinto muito — encolho os ombros. — Espero não ter feito estragos demais.

  — Ah, não tem com o que se preocupar. Alguns convidados ficaram descontentes, mas investidores ricos gostam de um pouco de drama igual a todo mundo. E quanto a roupa, era apenas mostruário. Então, o que houve? 

  Eu conto tudo a ele. Conto como a Debrah sacaneou o Castiel e como eu pensei que ela havia mudado. Conto também como ela deixou claro sua intenção de ficar com o ruivo por puro ego e que o beijou no coquetel, além da forma como tratou a Rosalya durante a prova das roupas. Leigh apenas assente, franze as sobrancelhas e devora o cheesecake silenciosamente enquanto escuta. 

  — Puxa vida… Jovens podem ser maus. 

  — Não é como se você fosse velho — rio, dando uma colherada no meu sorvete parcialmente derretido. 

  — Estou mais perto dos trinta dos que dos vinte, como vocês. De qualquer forma, eu sinto muito que tudo isso tenha acontecido. Não imaginei que a Debrah fosse esse tipo de pessoa. 

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