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[ 25 de abril, sábado ]




    Ariane Greene não estava brincando quando disse que teríamos um sábado romântico. Eu pensei que faríamos apenas o que ela sugeriu no vestiário — jantar, cinema e caminhar de mãos dadas por aí —, mas não. Ela está mesmo empenhada. Eu disse que não era preciso fazer nada; juro que estava falando sério sobre amá-la desse jeito. Não faço o que faço porque espero algo em troca, eu só gosto de ver o sorriso bonito dela. É meu jeito de expressar o que sinto.

    De qualquer forma, nada disso fez com que Ariane recuasse. De manhã fui acordado com uma bandeja de café na cama — waffles, bacon, café puro e algumas torradas com canela. Tinha até um copo com uma rosa vermelha dentro. Mal tive tempo de colocar a bandeja de lado antes que ela ocupasse o lugar do objeto sobre o meu colo. Não sei se sexo matinal conta como romance, mas longe de mim reclamar. Ariane Greene pode usar e abusar de mim quando e quanto quiser.

    Depois da transa ela me fez esperar no quarto por meia hora enquanto preparava um banho de espuma, com vela aromática e tudo, apesar de o banheiro estar bem claro mesmo com a luz apagada. A rosa usada para decorar a bandeja foi despedaçada para que as pétalas enfeitassem a água. Prático e econômico. Nós ficamos na banheira até a água esfriar; conversando, rindo e nos beijando. Também passamos algum tempo em silêncio, apenas aproveitando a tranquilidade e a paz de espírito que sentimos quando estamos juntos. Ao menos eu sinto.

    No momento estamos na cozinha, preparando uma macarronada, porque aparentemente cozinhar com o parceiro é romântico. Talvez seja nos filmes, com todas aquelas guerras de comida e danças lentas aleatórias, mas para nós é bem normal. Estamos quase sempre juntos na cozinha. Isso não deixa a experiência menos agradável, no entanto.

    — Como fazer macarrão é romântico? — questiono enquanto corto a cebola.

    — Cozinhar com outra pessoa é intimista.

    — Acho que a galera dos restaurantes não vai gostar de saber disso.

    — Fecha a boquinha e corte a cebola em pedaços menores, pode ser?

    — Sim, minha deusa.

    O som da faca batendo na táboa de madeira ecoa pelo ambiente enquanto faço o que foi mandado. Ao meu lado Ariane faz bolinhas de carne moída temperada de tamanhos desiguais e as coloca num prato. Talvez eu deva ajudá-la com essa coisa de romance, já que é tão importante para ela. Dou uma olhada ao redor. Tudo o que tenho ao alcance agora é a cebola, carne moída, dois sachês de molho de tomate e um pacote de espaguete — nada que eu possa jogar nela sem levar um chute no saco.

    — Vamos ter sobremesa?

    — Aham — ela responde distraidamente.

    — O que?

    — Comprei alguns danettes.

    — Jura? — abandono a faca quando acabo minha tarefa e coloco as mãos na cintura. — Acha que eu tenho quatro anos de idade?

    — Não amola, teremos uma sobremesa mais decente à noite. Considere como uma preliminar.

    — Por que? É você que eu vou comer depois do jantar?

    — Não me faça jogar essa almôndega na sua cara.

    É assim que nosso relacionamento funciona; numa hora estamos tomando um banho de espuma à luz de velas, na outra ela ameaça me agredir com uma bolota de carne crua. Eu sou louco por essa mulher. Infelizmente também não posso começar uma guerra de comida com danette, então não tenho outra escolha, a não ser pegar um punhado de farinha no armário e atirar contra ela.

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