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[ 08 de maio, sexta-feira ]



  Bato na porta, me sentindo desnecessariamente nervoso. Tenho uma garrafa de vinho tinto em uma mão e um buquê com tipos diferentes de flores, na outra. Clichê, eu sei, mas esse é meu conceito favorito. Piqueniques ao luar, passeios de mãos dadas na beira do mar, jantar à luz de velas, danças lentas na cozinha. Sempre adorei coisas assim. Craig não se importava muito. Ele até entrava na minha onda e tomava a iniciativa de vez em quando, mas não dava muita bola no geral. Tudo bem; pessoas diferentes possuem diferentes linguagens de amor. Mas sinto que Keith está disposto a me acompanhar.

  É ele quem abre a porta, usando calças de pijama e uma camiseta onde lê-se " VOTE BILL CLINTON " em letras azuis, brancas e vermelhas. É uma peça bem velha, considerando que Bill Clinton foi presidente entre 1993 e 2001. A expressão em seu rosto é de surpresa. O cabelo loiro está parcialmente preso para trás.

  — Oi, lindo. Achei que fosse trabalhar até tarde hoje.

  — Eu ia, mas consegui resolver tudo mais rápido que o esperado.

  — Se eu soubesse que ia vir, colocaria uma roupa melhor.

  — Está ótimo assim — digo com sinceridade. Keith fica perfeito com qualquer roupa. — Amo quando posso ver seu rosto direito.

  — Eu sei, eu sei. Você adora meus olhos verdes e minhas sardas charmosas — ele faz uma careta, fingindo estar de saco cheio. — Trouxe flores e vinho... Está tentando me seduzir? Minha mãe não está em casa, essa é sua chance.

  Um rubor sobe pelo meu pescoço até o rosto. Sei que essa é a reação que Keith almeja sempre que fala coisas assim - seu sorriso satisfeito deixa bem claro. Ele chega mais perto, me beija, então pede que eu entre. É minha primeira vez dentro da casa do Keith, e ela lembra um bocado a casa Vila Latina do The Sims Freeplay. Isso me pega desprevenido porque, até onde sei, nem Keith nem sua mãe são latinos. Talvez a casa já fosse assim quando compraram. É... Interessante. Diferente do que estou acostumado.

  Sou levado até a cozinha, e fico parado próximo a ilha enquanto Keith enche uma jarra com água e acomoda as flores dentro. É uma jarra mesmo, de suco. Talvez um jarro apropriado deva ser meu próximo presente.

  — Desculpe, só temos uma taça — ele pergunta, se aproximando de mim. — Você pode ficar com ela. Eu bebo num copo.

  — Hm... Na verdade, gostaria que fossemos para outro lugar.

  — Se é por medo que minha mãe chegue, não se preocupe. É noite de bingo na igreja e eles festejam até altas horas.

  — Oh? Não imaginei que sua mãe fosse uma senhora religiosa.

  — Não é. É que eles servem umas bebidas e petiscos de graça, e há poucas coisas das quais minha mãe goste mais que um goró gratuito — ele dá de ombros. — E mesmo que ela chegue cedo, e daí? Somos adultos.

  — Certo, claro. E você já jantou?

  — Não, estava pensando em pedir uma pizza. Que tal?

  — Por mim está ótimo. Massa e vinho, um verdadeiro jantar italiano.

  Keith pega a taça e um copo no armário, porém digo que quero um copo também. Não quero correr o risco de quebrar acidentalmente a única taça da casa. Nós nos acomodamos na sala com nossas bebidas em mãos e Keith deixa a garrafa no chão, ao lado do sofá. Na televisão, à nossa frente, está passando um programa ao qual não estou familiarizado. Keith joga uma perna sobre as minhas.

  — Clube dos Cinco — informa, indicando a tv. — Um dos filmes mais fodas dos anos 80. Já assistiu?

  — Não, mas confio no seu julgamento.

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