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[ 06 de fevereiro, domingo ] 





  É pouco mais de três da manhã quando chegamos ao tal bar, que está mais cheio do que imaginei que estaria a essa hora da madrugada. A maior parte do público é composta por universitários e, contrariando todas as minhas expectativas de ser a única pessoa de pijama, avistamos um rapaz usando samba-canção, uma camiseta dos Looney Tunes e chinelos. Ele está segurando um baseado aceso entre os dedos e me convida para um high five quando nos cruzamos. No geral, não é exatamente o tipo de lugar que imagino o Leigh frequentando. 

  A primeira coisa que fazemos é ir direto para o bar, onde ocupamos dois dos bancos altos. Leigh pede mais alguns shots de tequila e eu peço uma cerveja. O barman não pede para ver minha identidade; ainda bem, porque eu não a trouxe. Meu companheiro vira a primeira dose com uma careta, chacoalhando a cabeça enquanto o líquido desliza por todo o caminho até seu estômago. Nunca experimentei tequila, mas não me atreverei a beber nada forte demais essa noite. Um de nós precisa estar são. 

  — Não vá beber demais — aconselho, após ele tomar a segunda dose. — Não vai conseguir ficar com ninguém se vomitar na pessoa. 

  — Só preciso diminuir um pouco mais minhas inibições. 

  — Você fala chique pra alguém de porre — brinco. — Isso vai acabar numa bela ressaca. 

  — Tem razão, acho que foi um erro termos voltado aqui. Vamos embora. 

  Ele começa a se levantar, mas eu o puxo para baixo de novo. 

  — Nada disso, viemos até aqui com um objetivo. A placa na parede diz que o estabelecimento fica aberto até às cinco da manhã, então você tem menos de duas horas para arrumar uma transa casual — as duas últimas palavras o fazem ruborizar.

  Leigh pode ter aguentado bem as primeiras cinco doses de tequila que tomou, mas não demora muito para as doses adicionais derrubarem suas defesas. O teor alcoólico é alto, afinal. Seu olhar fica vago e ele começa a falar sem parar, pulando de um assunto pra outro rapidamente. É meio difícil acompanhar seu raciocínio, mas é divertido ao mesmo tempo. 

  Em um certo momento ele arrasta o barman para a conversa também. O nome do homem é Justin, ele tem trinta e dois anos e é até que bem bonito. Ele ri das coisas sem sentido que o Leigh diz e parece feliz quando suas respostas fazem meu amigo rir também. Uma hora ele até solta uma mecha de cabelo que fica presa no canto da boca do Leigh. Duas mulheres se aproximam do bar depois de um tempo, então Justin pede licença e vai atendê-las. 

  — Está sentindo esse cheiro de tinta? — pergunto, farejando o ar. — Acho que está pintando um clima. 

  — Ai, não, manchou minha camisa? — ele inspeciona o tecido branco com preocupação. 

  — Não, seu bobão — rio. — Quero dizer que o barman gostou de você. 

  — Acha mesmo? 

  — Eu vi os olhos dele acompanharem cada movimento dos seus lábios enquanto falava, então ou ele quer muito te beijar, ou é fonoaudiólogo. 

  — Será que ele está a fim de um lance casual? 

  — Não custa tentar. Eu vou ao banheiro para dar mais privacidade pra vocês, ok? 

  — Não tem que sair. 

  — Não, tudo bem. Duas garrafas de cerveja deixaram minha bexiga a ponto de explodir. 

  Uma coisa é fato: o banheiro de um bar é tão movimentado quanto o salão principal. Todas as quatro cabines estão ocupadas quando entro, o que me obriga a esperar perto de duas garotas que estão retocando a maquiagem. Ambas são bem bonitas e estão bem vestidas; comparada à elas pareço uma doida. De repente, meus olhos se encontram com o da garota loira através do espelho e ela se vira para mim. 

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