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[ 07 de fevereiro, segunda-feira ]



  Encontro Castiel lanchando sozinho na hora do almoço, e fico feliz que ele tenha me escutado e decidido parar de matar aula. Também passo vários minutos debatendo se deveria ou não me juntar a ele. Quer dizer, não é porque terminamos que não podemos mais almoçar juntos, não é? Nós éramos amigos — ou quase isso — antes de começarmos a namorar, e não vejo uma boa razão para não voltarmos a ser. E estou com saudade de passar um tempo com ele. Cento e setenta e tantas horas parecem uma eternidade. 

  Meu coração acelera uma batida a cada passo que dou para mais perto da mesa. Não sei por que interagir com Castiel me deixa ansiosa depois que terminamos. Acho que tenho medo que comecemos outra briga, ou que ele se vire para mim a qualquer momento e diga que desistiu da gente. Quando me dou conta já estou parada ao lado da mesa, então ignoro o formigamento nas minhas entranhas e sorrio. 

  — Posso me sentar? 

  — Nem precisa perguntar — Castiel responde, indicando o lugar vazio a sua direita. Ele parece um pouco espantado com a minha aproximação. — Não sabia que continuaríamos almoçando juntos. 

  — Só se você quiser — mordisco o lábio nervosamente. 
  
  — Como se eu pudesse falar não pra você. 

  Esboço um leve sorriso. 

  — Sei que nosso término não foi muito amigável, mas nós conversamos e nos resolvemos. Não vejo por que não podemos ficar numa boa. 

  — Mas não como namorados, suponho — ele dispara, cortando um pedaço do frango. Fico calada. Castiel solta os talheres e suspira, passando a mão no rosto. — Desculpa. Eu não devia ter dito isso. 

  — Tudo bem. Fico feliz que tenha vindo para a escola hoje. 

  — É, você tinha razão. Seria burrice repetir o ano por causa de faltas, principalmente quando falta tão pouco tempo para nos formarmos. 

  Ah, sim, a formatura. Isso me lembra que estou em possa de uma coisa que talvez não devesse mais ter. Sinto um pesar no peito. Fuço o bolso lateral da minha mochila, tirando de lá o pequeno objeto prateado e frio. 

  — Falando em nos formarmos, acho que devo te devolver isso — digo baixinho, deslizando a chave do apartamento sobre a mesa. 

  Castiel encara o objeto por um tempo, e seu pomo de Adão sobe e desce antes de ele focar o olhar em mim. 

  — Não quero de volta. 

  — O que? Mas... 

  — Você me ouviu. Pegar a chave de volta significaria que não há mais esperanças para nós e isso não é verdade. Não vou desistir de você tão fácil. Eu disse que mudaria e falei sério. 

  — Não estou desistindo de nós — declaro. — Só que não me sinto mais à vontade para entrar no seu apartamento a qualquer hora. 

  — Tá, então bata na porta — ele desliza a chave de volta para mim. — Mas fique com ela.
 
  Hesito brevemente antes de pegar o objeto e guardá-lo de volta na mochila. Não posso negar que a recusa de Castiel em ficar com a chave me deixa contente. Nós comemos em silêncio por um tempo porque é difícil encontrar algo para dizer. Mas não tem problema, só estar com ele já é bom o suficiente para mim. Pelo menos por agora. De repente, outro pedaço de pizza é colocado ao lado do meu na bandeja. Olho para o ruivo em uma pergunta silenciosa. 

  — Você emagreceu — explica. 

  — Não tenho sentido muita fome — encolho os ombros. 

  — Sofremos de formas diferentes então. Você emagreceu, e eu ganhei três quilos — ele torce os lábios. — Não quero que fique doente. 

  — Sei, e acha que pizza vai me encher de nutrientes? 

  — Será que dá pra comer sem ficar questionando? — Castiel cutuca minha costela, me fazendo rir e desviar para o lado. 

  — Só estou dizendo que pizza não vai me impedir de ficar doente. De fato, ela pode até me ajudar a ficar mal. 

  — Tá legal, Greene, então eu te levo numa loja de comida natural mais tarde. Que tal? 

  — Uh, isso é um encontro? — zombo. 

  Então o clima brincalhão morre. Acho que é cedo demais para piadas desse tipo. 

  — Só para esclarecer — Castiel diz. — Nós podemos voltar a nos falar normalmente? Porque, acredite, eu odiei cada mísero segundo que passei sem ter nenhum tipo de contato contigo. 

  — Então somos dois. Nós passamos uma semana afastados, acho que está na hora de deixar esse período de luto para trás. Não sei se consigo sobreviver mais tempo sem ter alguém me chamando de garotinha — sorrio. 

  — Quer dizer que podemos sair e mandar mensagens e telefonar? 

  — É, claro. Uma hora teremos que superar esse clima estranho, não é? — estendo a mão por cima da mesa. — Amigos? 

  — Vai ser extremamente difícil ser apenas seu amigo, garotinha — ele responde, apertando a minha mão. — Mas eu prefiro isso à nada, então, sim. Amigos. 

  Sorrio. 
 
                                       

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