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[ 22 de abril, quarta-feira ]




    — Nós realmente não deveríamos estar aqui — digo pela quinta vez, colocando as mãos sobre as de Castiel, que estão sobre os meus olhos.

    — É o único momento que temos, então dance conforme a música.

    — Vão nos pegar.

    — Eu vou te pegar, com certeza.

    Ai, Deus, espero que ninguém nos ouça ou nos veja. Nós deveríamos estar na aula agora, não perambulando por lugares que não consigo ver porque Castiel está cobrindo meus olhos desde que saímos do armário de limpeza — para onde ele me arrastou assim que o sinal do fim do intervalo tocou. Não quero mesmo ser pega, mas, por outro lado, hoje fazemos seis meses de namoro e é muito improvável que consigamos passar um tempo juntos mais tarde. É por essa razão que não apresento resistência, apesar das reclamações.

    Castiel abre e fecha portas, faz diversas curvas e emite vários " sshh " no pé do meu ouvido quando alguém está prestes a nos flagrar, sem nunca tirar as mãos dos meus olhos. Também atravessamos um longo caminho externo, bem a vista de todo mundo. Sei disso porque sinto a brisa, e porque bato de frente com uma árvore.

    — Desculpa.

    — Idiota — murmuro.

    Nós atravessamos mais uma porta, depois outra e, depois do que parece uma eternidade, paramos de andar. Seja lá onde estamos, é silencioso e meio gelado.

    — Feliz seis meses, garotinha — Castiel sussurra antes de abaixar as mãos.

    Estamos no vestiário, não sei se masculino ou feminino, e há um piquenique montado no chão. Reconheço o lençol lilás velho; eu o tenho há uns nove anos, e o levei comigo quando me mudei. Tem uma cesta pequena o bastante para caber no armário, e nelas estão as típicas rosas amarelas — que eu amo, apesar de nunca viverem por muito tempo. Também há duas caixinhas de suco de uva, cupcakes red velvet, croissants recheados com queijo e luzinhas brancas que funcionam com bateria. A arrumação é meio desengonçada, mas parece algo saído do Pinterest. É muito, muito fofo.

    — Eu amei — digo sinceramente, com uma mão no coração. — Mas não precisava fazer isso, você já me deu um anel de compromisso.

    — Eu disse que iria me redimir pelo furo de segunda-feira, e tem ocasião melhor que essa?

    — Não tem que se redimir por nada.

    — Pode só me beijar e parar de questionar? Estou tentando ser romântico aqui, droga.

    Rio e fico na ponta dos pés para lhe dar um beijinho.

    — Você é sempre romântico. Aposto que ninguém imagina isso, a não ser, é claro, as garotas com quem você já saiu.

    — Não, elas também não sabem. Você é a única que abala minhas estruturas nesse nível.

    Reviro os olhos, mas abro um sorriso bobo. Se eu soubesse que Castiel Chase é um romântico incorrigível, não teria falado mal dele para quem quisesse ouvir. Mas isso foi antes, quando eu não o suportava. Agora o acho maravilhoso. Muito irritante, às vezes, mas maravilhoso.

    Tiro algumas fotos do piquenique antes de nos sentarmos para comer. A iluminação não é muito boa, mas dá pro gasto. Também tiro uma foto do ruivo com o suquinho na mão — ele até dá um sorrisinho. Pego um croissant e o mordo.

    — Então, é por isso que não me deixou comer nada no intervalo — digo enquanto mastigo. — Eu deveria ter desconfiado só pelo fato de você não ter dormido em cima de mim. Quando fez isso?

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