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[ 21 de outubro, segunda-feira ]





— Eu juro, ele é a pessoa mais insuportável do mundo todo! — declaro pela centésima vez. 

— É uma pena que tenhamos voltado ao ódio. Vocês pareciam estar se entendendo melhor, se o que aconteceu na festa servir de indicativo. 

— Só que Castiel é um idiota, e eu o detesto. Fim de papo. Não quero mais falar sobre isso.

— Tudo bem, Arianinha.

— Sabe o que me deixa mais brava? — coloco a jarra da cafeteira no balcão com mais força do que pretendia, fazendo o objeto de inox emitir um som alto e agudo. Ainda bem que não é de vidro. — Eu realmente pensei que ele tinha mudado, mas ele continua sendo o mesmo grosso de sempre. 

— Tá legal, olha — Keith dá a volta no balcão, tirando a jarra da minha mão com cuidado. — Se continuar trabalhando nesse estado, vai acabar quebrando alguma coisa. E, na real, faz um tempão que você está destilando raiva e nem explicou o que aconteceu. Por que não dá uma relaxada? Eu me viro.

Keith tem razão, é melhor eu dar um tempinho. Depois de agradecê-lo pela gentileza, tiro o avental e vou para os fundos da lanchonete. Não há nada aqui além de uma lixeira enorme, mas ao menos posso ficar sozinha e tomar um ar. Sinceramente, nem sei dizer porque estou tão irritada. A atitude do Castiel foi ruim, sim, mas pode ser que eu esteja exagerando um pouquinho. 

O que eu disse mais cedo era verdade; realmente avaliei nossa situação durante o fim de semana, as razões que dei para não ficarmos juntos. A primeira é o fato de meu pai não gostar do Castiel. É óbvio que ele não permitiria que namorássemos, mas ele também não gostaria de saber que passo uma quantidade razoável de tempo com o ruivo todos os dias e isso nunca me fez tentar afastá-lo. 

A razão número dois é o medo de sair da zona de conforto. Eu nunca estivesse em um relacionamento; tenho medo de tudo dar errado e acabar no sofrimento de ambos. Me sinto mais segura estando sozinha. Acontece que quero formar uma família um dia e, para isso acontecer, preciso superar esse medo. 

A razão número três era o medo de brincar com os sentimentos do Castiel, mas, sejamos honestos, é óbvio que estou sentindo alguma coisa também. A vontade de estar com ele, de beijá-lo, os sinais que meu corpo dá quando ele me toca... É inegável. Nem mesmo a minha teimosia seria capaz de mascarar isso. Refletindo sobre tudo isso, percebi que talvez não seja uma ideia tão ruim aceitar a proposta de Castiel.

Isso é, antes de brigarmos na escola, claro. Agora, não tenho mais certeza. Castiel nem tentou me seguir, nem se desculpou! Pensando bem, é melhor deixar as coisas como estão. Não quero que meu primeiro relacionamento seja com um idiota orgulhoso e...

— Greene? 

Me viro em um sobressalto. Castiel está parado na porta, segurando três rosas amarelas presas por um arame. Ele parece arrependido e um pouco cauteloso. As borboletas acordam imediatamente.

— O que faz aqui? 

— Vim conversar. Trouxe essas flores para você. Sem espinhos, caso tente me bater com elas — ele chega mais perto. — Também comprei um chocolate, mas esqueci no bolso da calça e sentei nele até aqui. Foi mal.

Contenho uma risada. Não posso entregar o jogo tão facilmente. Pego as rosas que Castiel me oferece, segurando-as com delicadeza. São lindas! Ele provavelmente não sabe, mas amarelo é uma das minhas cores favoritas. 

— Me desculpe, Greene. Eu disse que não precisava se preocupar com meus sentimentos e depois despejei minhas expectativas em cima de você. Foi errado.

— Foi — concordo. — Também peço desculpas. Por ter gritado, sabe? Não devia ter perdido a calma. 

— Tudo bem, estou acostumado a fazer as garotas gritarem.

Reviro os olhos, batendo nele levemente com as flores. Castiel sorri, então apóia as mãos na minha nuca e cintura e captura meus lábios em um beijo conciliador. Toda a raiva derrete e forma uma poça sob nossos pés. 

— Por que demorou tanto para vir falar comigo? — pergunto quando nos separamos.

— Nós discutimos o tempo todo, mas nunca nos reconciliamos propriamente. Eu não sabia bem o que fazer. 

— Você está se mostrando mais romântico do que eu imaginava, Chase.

— É, mas vê se não espalha. Tenho uma reputação a zelar. 

— Já ouvi algumas pessoas dizendo que você é pálido assim porque seguiu um ritual demoníaco da internet para virar vampiro.

— Já ouvi sobre isso — ele ri. — Uma vez me perguntaram se era verdade. Eu disse que sim, e que meu cabelo é dessa cor por causa de todo o sangue que bebo. 

Não seguro a risada dessa vez. Me pergunto que tipo de boatos as pessoas inventam sobre mim, ou se sou notada o suficiente para que inventem qualquer coisa. Sinceramente, espero que não.

— Então, estamos bem? 

— Estamos — confirmo, balançando a cabeça. — Tão bem quanto é possível para nós, pelo menos.
 
— E quanto ao que você disse sobre aceitar minha proposta...?

O barulho de várias coisas caindo dentro do Hummingbird chama nossa atenção.

— Acho que Keith precisa de ajuda — digo, dando um beijo rápido no ruivo. — Falamos sobre isso depois.

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