[ 16 de maio, sexta-feira ]
— Não precisava me acompanhar, sabe?
Posso ver o Keith através do espelho deitado no sofá de couro marrom de três lugares, lendo uma revista com o Zac Efron e a Vanessa Hudgens na capa. Esse negócio deve ser mais velho que eu. Ariane me fez assistir High School Musical algumas vezes. É tosco pra caralho, mas gosto de vê-la toda felizinha enquanto assiste, como se fosse a melhor história de amor já inventada. No que diz respeito a musicais bobos que ela me fez ver, prefiro Camp Rock. Ao menos as músicas são melhores. Não que eu vá admitir isso em voz alta para qualquer pessoa que não seja ela.
— É, mas eu não tinha nada melhor pra fazer — Keith dá de ombros sem olhar para mim. — Além do mais, lindinho, melhores amigos são pra isso. Eles fazem companhia um pro outro, vão ao banheiro juntos...
— Não sei o que me dá mais vontade de te quebrar, ser chamado de " lindinho " ou a ideia de irmos ao banheiro juntos.
— Qual o problema? — ele abaixa a revista para me olhar. — Mulheres fazem isso, por que não podemos?
— Porque a última coisa que eu quero enquanto uso o banheiro é você lá, comigo.
— O problema sou eu? Aposto que deixaria a Ari entrar.
— O que...? Puta que pariu, Keith, é por isso que eu não queria que viesse — esbravejo. — E eu amo aquela mulher. Existem poucas coisas que eu não deixaria ela fazer.
Ele sorri, faz um som de chicote e volta a ler o que provavelmente são " 10 Dicas Para Conquistar O Gatinho Da Escola ". Estamos presos na empresa por quarenta minutos enquanto o tonalizante azul oxford faz efeito. Ou melhor, eu estou. Keith pode ir embora quando quiser. Ele deve estar bem entediado se prefere ficar aqui, lendo uma revista velha voltada para garotas de quinze anos — ou para qualquer pessoa de quinze anos que curta maquiagem, moda e homens.
A hair stylist que ficou encarregada de cuidar do meu cabelo nos deixou sozinhos, não sei se para nos dar privacidade ou se porque precisou atender outra pessoa. A Moon Records representa alguns outros artistas; ninguém realmente grande. O senhor Yang disse que eles têm grandes esperanças para a Crowstorm. Talvez sejamos os artistas que tornarão a empresa bastante conhecida. Seria foda.
— Acha que eu deveria cortar o cabelo?
Tomo um susto. Estava tão perdido em pensamentos que não notei Keith se aproximar. Nos olhamos através do espelho enquanto ele analisa seu cabelo, que está tão comprido quanto o meu.
— Sei lá. Você quer cortar?
— Não sei. Gosto dele comprido, mas tenho cabelo demais e ele fica armado com facilidade. Pareço um leão pela manhã.
— Parece mesmo.
— Valeu — ele estreita os olhos.
— Dê uma aparada, se está incomodado. Não precisa cortar tudo.
— É... Vou pensar. Será que preciso comunicar a empresa antes de fazer isso? Talvez eles queiram meu cabelo comprido porque me faz parecer super sexy e adorável ao mesmo tempo.
— Quem disse isso? As vozes na sua cabeça?
— Por outro lado, Leigh adora quando consegue ver meu rosto com mais clareza. Ele vive botando meu cabelo para trás.
— Eu realmente não quero saber o que você e o Leigh fazem quando estão sozinhos.
— Nem vem. Eu sempre escuto quando você fala da Ari.
— Eu nunca falo sobre minha intimidade com a Ariane, a menos que você pergunte e olhe lá.
— Fica de boa, Castiel. Eu disse que ele gosta de ver meu rosto, não que ele curte quando eu...
— Não termine essa frase! Eu não quero saber.
— Pode fingir que não se importa, mas me lembro de você putinho querendo bater nos caras que agrediram a gente.
— É claro que eu me importo, imbecil — dou um soquinho leve em sua costela. — Só não quero saber o que vocês fazem entre quatro paredes. Fique à vontade para vomitar arco-íris o quanto quiser, só não me fale sobre sua vida sexual.
— E se eu precisar de algum conselho?
— Eu não sei nada sobre transar com homens. Fale com a Ariane.
Keith ri.
— Sim, claro. Com certeza posso imaginar a Ari falando comigo sobre sexo. Ela fica vermelha se faço qualquer tipo de piadinha meramente suja.
Sorrio de leve. É, ela fica mesmo. É engraçado como ela está disposta a fazer inúmeras coisas na cama, mas fica envergonhada se faço qualquer comentário sobre isso depois. É bonitinho. Faço brincadeiras desse tipo porque gosto de ver sua expressão e o tom rosado que suas bochechas adquirem.
— Você ficou surpreso? — Keith pergunta, de repente. — Quando comecei a sair com um cara, quero dizer. Ficou surpreso?
— Hm... Não. Não que eu me lembre.
— Por que não?
— Bom, em primeiro lugar, eu não te vi sair com ninguém desde que viramos amigos. Em segundo lugar, você passa uma vibe.
— Que vibe? Como assim? Eu pareço gay?
— Te vejo como alguém que não se importa com quem a pessoa é ou como ela se identifica, tá ligado? Alguém que não se limita.
— Está se referindo a pansexualidade?
— É, acho que sim. Não me coloque numa saia justa, por favor. Não quero entrar nesse assunto e acabar sendo ofensivo sem intenção.
Keith fica em silêncio por um tempo, parecendo pensativo. Não quero que ele me entenda mal. Não me importo com a sexualidade dele, tipo, ele pode ficar com quem quiser. Não vou gostar menos dele por causa disso, de jeito nenhum. Keith é meu amigo, eu amo esse cara. Não que eu vá dizer isso pra ele. Só que não sou um grande conhecedor do tópico " sexualidade ", e não quero dizer nada errado.
— Fiz algumas pesquisas desde que comecei a sair com o Leigh. Também fiz umas auto-análises. Mas, para ser bem sincero, ainda estou me descobrindo.
— Isso é bom, cara.
— É, mas é meio complicado. Ainda é meio confuso para mim o fato de eu estar namorando um cara.
— Você parece estar lidando muito bem com isso.
— Estou, acho, só fico pensando às vezes. Se também gosto de homens, por que nunca fiquei com um antes? Entende?
— Talvez estivesse reprimindo esse desejo incoscientemente ou só não encontrou alguém que te interessasse de verdade. Os motivos são variados, acredito. O importante é você estar com quem gosta, ainda que esse alguém seja um Frey.
O silêncio toma conta da sala por alguns segundos, enquanto me dou conta de que estamos levando um papo sério e que acabei de ser consideravelmente carinhoso. Oh-oh. Viro a cadeira lentamente na direção do Keith enquanto um sorriso maníaco surge em seu rosto. É bom que ele saiba que gosto dele, mas pode ser perigoso deixá-lo ter certeza disso. De repente, ele pula e cai sentado em meu colo.
— Que porra é essa agora? — pergunto com espanto.
— Ora, estou com quem gosto — ele balança as sobrancelhas pra cima e pra baixo. — Como acha que os fãs vão nomear nosso bromance? Eu gosto de Kestiel.
— Cai fora.
Inclino a cabeça, deixando uma mancha de tonalizante azul em sua bochecha de propósito. Keith arregala os olhos e corre para lavar o rosto.
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FanficNOTA: ESSA HISTÓRIA CONTÉM ERROS DE DATA QUE SERÃO CONSERTADOS POSTERIORMENTE - Você me ignorou a semana inteira - reviro os olhos. - Sua amiga deve estar te esperando. Vai embora. Tento fechar a porta, mas meus movimentos estão lentos demais, ent...