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[ 27 de dezembro, sábado ]




A primeira coisa que vejo ao acordar é o rosto adormecido de Castiel — mais precisamente sua boca entreaberta, já que um dos braços está cobrindo seus olhos. Me viro, ficando de barriga para cima, e me espreguiço. Eu não devia ter passado a noite aqui, mas não quis ir embora depois do que fizemos ontem; principalmente porque fizemos duas vezes. Curiosidade: estimulantes sexuais fazem efeito por horas, como vim a descobrir. 

Confiro as horas no celular; oito e meia. Bem cedo para um sábado. Sei que não vou conseguir dormir de novo, então decido preparar alguma coisa para o café da manhã. Faço uma parada no banheiro primeiro, e encaro meu reflexo no espelho. Nada em mim parece diferente, além de algumas marcas roxas aqui e ali, mas não me sinto igual — talvez algo tenha mudado internamente. Sou oficialmente ativa sexualmente, e isso faz eu me sentir mais adulta. 

Castiel acorda quando coloco a primeira panqueca na frigideira. Ele me abraça por trás e apóia a testa no meu ombro, soltando um grunhido sonolento. Sorrio, me virando. Seu cabelo está todo desgrenhado e há uma marca vermelha em seu rosto deixada por uma dobra na fronha. É fofo.

— Bom dia — desejo, lhe dando um beijo rápido. — Dormiu bem?

— Como se tivesse sido nocauteado. Você me esgotou ontem, garotinha. Tem certeza de que nunca tinha feito sexo antes?

— Absoluta. Tem café na garrafa, se quiser recuperar as energias. 

— Seus pais ainda acham que você dormiu na casa do Lysandre? — Castiel pega uma caneca e enche mais da metade com café. 

— Provavelmente. Duvido que minha irmã já tenha ido embora. Se tiver alguém acordado naquela casa a essa hora, tenho certeza de que é só o Leigh. 

— Leigh? 

— É. Você sabe, o irmão do Lysandre. 

— Ah, claro. Uma outra versão daquele otário, que alegria. 

Reviro os olhos. Até quando Castiel vai ficar com essa implicância idiota? Coloco o prato de panquecas sobre a mesa, e Castiel me puxa para o seu colo antes que eu possa ocupar uma das três cadeiras livres. 

— Como está se sentindo? — pergunta, acariciando minha cintura por cima da camiseta com o polegar. — Alguma coisa dói? 

— Não, eu estou muito bem — sorrio. — Foi tudo bem melhor do que imaginei, apesar da dor inicial.

— Nenhum arrependimento então? 

— Não, nenhum. 

— Ótimo. Fico feliz — ele encosta a testa na minha e suas próximas palavras são pouco mais altas que um sussurro, nos envolvendo em uma bolha de intimidade. — Quer saber de uma coisa? Essa foi a primeira vez que dormi com uma garota de quem gosto de verdade, e foi maravilhoso. 

— Sério? — arregalo os olhos, me afastando. 

Castiel confirma, esboçando um sorriso. Meu coração fica cheio. Castiel foi o responsável por todas as minhas primeiras experiências no campo amoroso, e saber que fui a responsável por uma primeira vez dele me deixa feliz. Um sorriso enorme rasga meu rosto e eu o beijo. Sua mão desliza pela minha coxa nua em um vai e vem, mas não há malícia no gesto. 

— Estou sentindo tanto afeto por você agora que chega a doer — declaro. 

Ele ri. Eu adoro ouvir sua risada. 

— Também te adoro, Greene. Agora, vamos comer, senão não vou ter disposição pra nada. 

Nós devoramos o café da manhã ávidamente, como se estivessemos sem comer há dias, depois voltamos para a cama. Não fazemos nada além de conversar e nos beijar um pouco, e é tão bom que eu poderia ficar aqui para sempre. Nos levantamos ao meio dia sem muita vontade, e preparamos macarrão instantâneo para o almoço. Ariana me liga às duas da tarde, quando Castiel e eu estamos vendo tv, estourando nossa bolha de preguiça e felicidade.

— Oi, maninha, tudo bem? Estou interrompendo alguma coisa?

— Mais ou menos. Aconteceu alguma coisa?

— Não. Lysandre e Leigh têm um compromisso em meia hora, então já vou para casa.

Reclamo internamente. Ariana ir para casa agora significa que eu tenho que ir embora também, já que nossos pais acham que ambas passamos a noite na casa do Lysandre. Devo ter feito uma careta, porque Castiel está com as sobrancelhas arqueadas de curiosidade quando olho para ele. 

— Tudo bem — suspiro. — Eu já vou. 

— O que houve? — o ruivo pergunta quando encerro a ligação. 

— Tenho que ir embora — anuncio com tristeza, me aninhando em seus braços e inalando seu perfume gostoso. — Queria ficar o fim de semana todo aqui. 

— Então, fique. 

— Não posso — suspiro outra vez, levantando a cabeça. — Eu não teria uma boa desculpa para dar pros meus pais. 

Castiel joga a cabeça para trás, grunhindo.

— Talvez eu possa aparecer por lá quando todos estiverem dormindo. 

Mordo o lábio, me sentindo muito tentada a aceitar sua proposta. Mas...

— É melhor não. É bom não desafiarmos muito a sorte. Talvez possamos nos ver amanhã.

O ruivo me segue até o quarto, onde volto a colocar minhas próprias roupas. Peço para ficar com a camiseta que ele me emprestou. Passamos vários minutos dando uns amassos contra a porta da frente antes de eu me forçar a sair do apartamento. Meu coração fica apertado enquanto caminho pelo corredor. É tão estranho; acabamos de nos despedir, mas já estou com saudades dele.

Castiel está me enlouquecendo. 

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