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[ 16 de fevereiro, quarta-feira ] 




  Estou deitada no sofá, lendo um livro, quando Ariana atravessa a sala e sobe a escada com passos ligeiros, como se estivesse fugindo de alguma coisa. Interrompo a leitura, franzindo as sobrancelhas, e confiro as horas. São oito e quinze, só tem quarenta e cinco minutos que ela saiu de casa para ver o Lysandre; normalmente ela não volta antes das dez. Algo deve ter acontecido. Fecho o livro e sigo seu rastro até o quarto, onde a encontro andando nervosamente de um lado pro outro no tapete. Desfiro duas batidinhas na porta com o nó do dedo. 

  — Ana, tudo bem? 

  — Eu estou surtando, Ari — ela para de andar e me encara com olhos aflitos. 

  — O que aconteceu? 

  — É o Lysandre. 

  — Ai, meu Deus, ele está bem? — pergunto, assustada, dando um passo mais para dentro. 

  — Tá, é só que… Ele disse que me ama. 

  Solto um suspiro aliviado. 

  — Ué, isso não é novidade. Vocês já disseram que se amam antes. 

  — Não, não, você não entendeu — ela balança a cabeça. — Lysandre disse que está apaixonado por mim. Com todas as letras.

  Não posso esconder o espanto. Lysandre se confessou; sem música, sem ensaio, sem ajuda e provavelmente sem querer. 

  — O-oh — balbucio. — E como aconteceu? 

  Então Ana conta tudo. Eles estavam assistindo um reality show e Lys estava agindo estranho. Minha irmã insistiu até que ele admitiu ter ficado com ciúmes por conta do encontro com o garoto da escola anteontem. Os dois começaram a discutir — coisa que nunca fazem —, e o Lysandre acabou confessando seus sentimentos em um impulso. Depois disso se seguiu um silêncio pesado, então minha irmã pegou a bolsa e veio para casa. Puxa vida… 

  — Ari, eu não sei o que fazer! 

  — Bom… Você não gosta dele? 

  — É claro que eu gosto do Lys, ele é o melhor cara que já conheci. 

  — Mas você gosta gosta ou só gosta? 

  — Eu não sei, não… Olha, Ari, se envolver ou não num relacionamento amoroso com seu melhor amigo não é uma decisão fácil de se tomar. Se eu disser não, posso perder uma coisa incrível. No entanto, se eu disser sim, pode ser que tudo dê errado e nós voltemos a ser apenas dois estranhos. 

  — Ana, o Lys gosta mesmo de você. Não seria incrível estar com um cara que é seu melhor amigo também, além de namorado? — tento arrazoar. — Vocês já agem mesmo como um casal, não mudaria muita coisa. 

  — O que? Nós não agimos como um casal. 

  — Está brincando? Vocês vêem tv abraçados, estão juntos quase o tempo todo, saem para comer, fazem skincare e hidratação de cabelo, festas do pijama e você até ficou com ciúme da Rosalya. Admita. 

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