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[ 07 de janeiro, sexta-feira ]






  O silêncio é quase constrangedor enquanto Keith e Castiel lêem o bloco de notas onde Lysandre escreveu a letra para a música que quer dedicar à minha irmã. Não é bem como eu gostaria de passar a noite de sexta, mas eu tive que vir para garantir que Castiel não será grosseiro e arrogante. Ainda bem que uma das amigas de Ana a convidou para uma festa do pijama, ou Lysandre e eu teríamos que mentir para não estragar a surpresa. Espero que tudo corra tão bem quanto esperamos. 

  — A letra é boa — Keith diz. 

  — Pra um macaco. 

  — Castiel — lhe lanço um olhar repreendedor.

  — Foi mal. Não é horrível, mas precisa de alguns ajustes. 

  — Quer dizer que precisarão mudar? — Lys pergunta. 

  — Algumas coisas. Você sabe, pra encaixar melhor na melodia — o loiro explica. — Mas fica tranquilo, faremos isso juntos. Vamos manter a essência dos seus sentimentos.

  — Tudo bem. Você também é apaixonado por uma Greene, Castiel, então provavelmente sentimos coisas bem parecidas. Só tente não usar palavrões.

  — Eu estou fazendo isso de graça. 

  — E de boa vontade, não é? — digo docilmente, sorrindo. Castiel resmunga em concordância. — Não se preocupe, Lys, não vai haver nada que você não queira.

  Keith abaixa a cabeça e coça o nariz para esconder a risada. Ouvimos a porta da frente abrir e fechar e Leigh aparece na sala poucos segundos depois. Ele está usando jeans, um casaco de crochê azul-claro por cima de uma camiseta branca e um gorro de lã que o faz parecer mais jovem. É bem óbvio que o dono da casa não esperava ver nenhum de nós aqui porque suas sobrancelhas se arqueiam com surpresa. 

  — Não sabia que estávamos dando uma festa — Leigh diz, a voz calma como sempre. 

  — Eu esqueci de avisar que receberia visita, desculpa. 

  — Tudo bem, você pode trazer quem quiser. Também vou receber um amigo — ele retira o casaco e o pendura no braço. — Ari é muito bom te ver, como sempre — sorri. — Castiel, também é um prazer. E você é? 

  — Keith. 

  — Eu sou o Leigh, é um prazer te conhecer. Se me derem licença, eu vou tomar um banho. 

  Leigh some no corredor com passos elegantes, e Castiel está me encarando quando olho para ele. Levanto uma sobrancelha em uma pergunta silenciosa, mas o ruivo apenas volta a atenção para o bloco de notas em suas mãos. Os garotos começam a trabalhar na letra e fazer os ajustes necessários enquanto eu aguardo em silêncio. É até divertido vê-los trabalhando juntos, mas fazer música é difícil e pode demorar um bocado. 

  Dou uma olhada pela sala; não costumo reparar demais nas coisas dos outros, mas preciso poupar a bateria do celular. Há algumas fotos emolduradas no rack, então me levanto para vê-las melhor; Lysandre bebê, Leigh bebê, ambos com um casal que suponho ser seus pais, Leigh com uns dez anos de idade com um Lysandre pequeno sentado entre suas pernas e vários coelhos ao redor. As imagens são tão fofas que não posso evitar sorrir. Há também uma foto dos irmãos um pouco mais novos que agora, os rostos colados e grandes sorrisos e, caramba, que genética abençoada. 

  Passo os olhos pelo cômodo de novo, e dessa vez o que chama minha atenção é um aparador mais ao canto, onde há um toca discos, vários discos de vinil e uma pequena jukebox movida a moedas, como as que encontramos em algumas lanchonetes. Vou até lá imediatamente. Adoro essas coisas retrô ( ou vintage, talvez ). Já vi casos em que os pais guardaram essas coisas legais para os filhos, mas na minha família isso não aconteceu. Os únicos objetos antigos que foram preservados para nós são umas bonecas de pano da mamãe, mas minha vontade real é de jogá-las numa fogueira. Prefiro não ter nada que possa tentar me matar. 

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