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[ 05 de fevereiro, sábado ] 




  — Ô, irmãzinha, não fique assim — Ana pede vindo sentar-se perto de mim na cama, onde estou largada há horas. — Se está sofrendo tanto, por que não volta atrás e reata o namoro? 

  — Não — balanço a cabeça, fungando. — Precisamos de um tempo separados para melhorarmos como pessoa. 

  — Mas vocês se amam, não é? 

  — Às vezes, Ana, só o amor não basta. 

  Me ajeito na cama, ficando com as costas apoiadas na cabeceira. A parte de trás da minha cabeça está dormente por ficar tempo demais deitada. Deslizo o polegar pela tela do celular, passando para a próxima foto; um retrato do Castiel fazendo um joinha com uma das mãos enquanto segura um hambúrguer enorme na outra. Ele parece feliz na imagem, muito diferente de como estava ontem. De repente, o aparelho é tomado da minha mão. 

  — Tá, já chega disso — Ariana se levanta, saindo do meu alcance. — Se não vai reatar o namoro, então ao menos reaja! Não pode passar o dia todo na cama, vendo fotos do ex e chorando. É sábado, vamos sair e fazer alguma coisa. 

  — Eu não quero ir pra lugar nenhum. Não vê como estou sofrendo? Só quero ficar na cama e, sei lá, me entupir de chocolate. 

  — Pois não há a menor chance de eu permitir que fique aqui, se martirizando. Já faz uma semana que vocês terminaram! 

  — Já?! — questiono com indignação. — Acha que sete dias é muito tempo? 

  — Precisei de bem menos que isso para superar minhas paixonites. 

  — Só que o Castiel é muito mais que uma paixonite. Ele foi meu primeiro namorado, meu primeiro beijo, meu primeiro encontro, meu primeiro tudo — Nós planejávamos morar juntos, acrescento em minha cabeça. — Eu o amo. Leva bem mais que uma semana para superar algo assim. 

  — Tudo bem, Ari, mas ainda assim é preciso fazer alguma coisa. Poxa, suas fotos saíram numa revista famosa! Vamos comemorar isso. Se não quer sair, tudo bem, a gente fica em casa e faz uma noite das meninas. Vou chamar o Lys também — ela faz menção de sair do quarto, levando meu telefone junto, mas para na porta. — Aliás, qual é o envolvimento dele nessa história? Por que ele está agindo como se tivesse alguma culpa? 

  — Como é que eu vou saber? Lysandre é um cara sensível. 

  Seco minhas lágrimas com as costas das mãos. Terei que revelar os sentimentos do Lysandre se quiser responder a pergunta da minha irmã com honestidade, e isso não é direito meu. Ariana me olha com desconfiança, mas não insiste. Estou fragilizada demais para ser importunada. 

  — Você pode convidar o Keith para a noite das meninas, se quiser. 

  Nego com a cabeça. 

  — Castiel precisa de um amigo agora, Keith vai ficar com ele. Pode devolver meu celular? 

  — Para você ficar se torturando? De jeito nenhum. 

  Assim que ela vai embora, saio da cama e vou até meu armário. Fico na ponta dos pés para pegar a caixa na prateleira de cima, depois me sento no tapete com ela e espalho as polaróides pelo chão. Talvez eu esteja mesmo me torturando, mas não posso evitar. Sinto como se estivesse de luto. Se não posso estar com Castiel, quero ao menos poder olhar nossas lembranças. Me pergunto se ele está fazendo o mesmo.

                                      °

   — Sorvete de chocolate? Sério? — Keith apóia as mãos na cintura. 

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