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[ 23 de dezembro, quinta-feira ]




  Assim que saio do carro sou envolta por em um abraço acolhedor. Surto por meio segundo antes de reconhecer o perfume, a estampa do moletom e o calor corporal. Castiel. Fecho os olhos e respiro fundo; mesmo que minhas narinas estejam congestionadas e meus sentidos meio afetados, sentir seu cheiro faz com que eu me sinta um pouco melhor. Ele beija meus cabelos e se afasta um pouco.

  — Como você está? Mandei algumas mensagens, mas não me respondeu.
 
  — É, meu celular foi meio que confiscado.

  — Sinto muito, Greene. Eu realmente não queria que as coisas acontecessem assim.
 
  — Tudo bem — pisco os olhos devagar, sentindo a cabeça rodar um pouquinho. — Eu não devia ter mentido. 

  — Sua voz está estranha. Está se sentindo bem?
 
  — Totalmente.

  Castiel franze o cenho, desconfiado, e apóia uma das mãos na minha testa. 

  — Não está nada bem. Você está pegando fogo! 

  — Obrigada — abro um sorriso fraco.

  — Está queimando de febre, Greene. Provavelmente foi a chuva de ontem à noite. Você devia ter ficado em casa, na cama, descansando. Está frio demais para uma pessoa gripada estar ao relento. 

  — Estou com raiva demais para ficar em casa. Tomei um pouco de xarope e saí antes que alguém notasse que estou doente. 

  O que pode não ter sido uma boa ideia, já que o xarope me deixou meio grogue. Entretanto é melhor do que ficar em casa, suportando os olhares decepcionados e zangados. Castiel analisa a temperatura do meu pescoço e bochechas, sustentando uma expressão preocupada. Talvez eu não devesse ter passado a noite com as roupas molhadas. 

  — Tá, você não pode ficar na escola assim. Está quente demais. Sabe qual a sua temperatura agora?

  — Não tive tempo de procurar o termômetro. 

  — Tem que ir para a cama.

  — Castiel, eu estou bem. Sério. Podemos entrar? Estou sentindo um pouco de frio. 

  O ruivo não parece nem um pouco satisfeito com a minha insistência em permanecer na escola, mas passa um braço por minha cintura e me acompanha para dentro do prédio. Noto que nossa proximidade chama a atenção de algumas pessoas, mas não dou a mínima. Quem não deveria já descobriu sobre nosso namoro, então não faz diferença se todas as outras pessoas souberem também. 

  — Ari! — ouço Lysandre chamar e, de repente, sou envolvida em outro abraço em menos de trinta minutos. — Eu soube do que aconteceu. Sinto muito que seus pais tenham descoberto. Como você está?

  — Zangada, chateada e doente. Final feliz, oba! 
  Lysandre toca minha testa.

  — Está bem quente. Não é melhor ir para casa? 

  — É! — Castiel responde, exasperado. — Viu, só? Sua teimosia me fez concordar com esse cara. 

  — Eu não vou para casa — declaro com todas as forças que consigo reunir. — Agradeço a preocupação de vocês, mas não quero ficar em casa no momento. É só um resfriado bobo, posso aguentar umas horinhas de aula. 

  — Seus dentes estão batendo de frio. 

  — Pois é… Que tal pegar um café para me ajudar a ficar aquecida? — abro meu melhor sorriso pidão. 

  Castiel bufa, contrariado.

  — Está bem. Fica de olho nela até eu voltar. 

  Lysandre me lança um olhar espantado — só mesmo uma febre alta para fazer com que Castiel peça para ele cuidar de mim. O garoto de cabelo cinza me guia até o banco mais próximo, e fico feliz por poder me sentar. Odeio ficar doente; costumava passar muito tempo tomando soro na veia quando era criança. Puxa vida, estou tão gelada que parece que fui atingida pela lâmina de um Caminhante Branco. Boto minhas mãos em forma de concha na frente da boca e assopro. Lysandre me lança um olhar preocupado.

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