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[ 26 de março, sexta-feira ]


    Dizem que um ponto chave na hora de escolher um par romântico é saber se serão capazes de manter uma conversa agradável pelo resto da vida, porque isso é praticamente tudo o que restará. Eu concordo, mas também acho importante estar com alguém com quem se possa ficar em silêncio confortavelmente. Como agora, por exemplo. Estou de bruços na cama, lendo, enquanto Castiel troca mensagens com Mark e Jake e massageia minha panturrilha distraidamente. Os rapazes estão compondo uma nova música. Keith não está participando da conversa porque está com Leigh, atuando como modelo.

    Confesso que, desde que passei a desconfiar da paixonite do Leigh, comecei a achar que os dois formariam um casal adorável. O problema é que não estou certa sobre a sexualidade do Keith e não sei como perguntar. Também não posso falar sobre isso com Castiel sem levantar suspeitas, mesmo que eu queira muito. Não posso falar com ninguém sobre isso, na realidade, já que Leigh nunca admitiu abertamente que sente alguma coisa, e não quero deixá-lo desconfortável. Acho que só me resta esperar.

    — Meu cartão ficou com você ontem, depois de passarmos no mercado, não ficou? — Castiel pergunta de repente, me assustando um pouco.

    — Ficou — confirmo, tirando o mesmo da capinha do celular e me sentando para entregá-lo. — Vai comprar alguma coisa? Pensei que estivesse falando com os meninos.

    — Estou, só fiz uma pausa para olhar um site. Tem uma coisa que quero comprar há uns dias.

    — O que é?

    Me inclino para tentar bisbilhotar a tela do celular, mas Castiel não deixa. Solto ruídos manhosos e contrariados.

    — A curiosidade matou a gata, garotinha.

    — Não sou nenhuma gata.

    — Discordo fortemente — ele responde, voltando a atenção ao aparelho.

    — Por que não posso saber o que está comprando? Achei que não houvesse segredos entre nós.

    — Não precisa chorar, Greene. Você saberá quando chegar a hora.

    — Não é nenhum tipo de brinquedinho obsceno, não é? — pergunto desconfiadamente, tentando espiar e sendo impedida mais uma vez. — Não quero saber de bizarrices, Castiel. Se me aparecer com um vibrador ou sei lá, eu te bato com ele.

    — Cruzes, por que sempre pensa isso de mim? — o ruivo termina de coletar as informações do cartão e o coloca sobre a mesa de cabeceira, bloqueando o telefone em seguida. — Para começo de conversa, vibradores não são uma coisa de outro mundo. E em segundo lugar, quem disse que é pra você?

    — Não é?

    Ele abre um sorriso provocador.

    — Não sei. Pode ser que sim, pode ser que não. Você saberá daqui dez ou quinze dias.

    Faço uma cara emburrada. É assim que se mata uma pessoa curiosa. Minha memória é meio ruim, então sei bem que me esquecerei disso em algum momento, mas a lembrança voltará para me atormentar aleatoriamente ao longo dessas duas semanas de espera.

    — Pode me dar uma dica, pelo menos?

    — Tá. Não é nada sexual, mas é de enfiar.

    — Como eu deveria interpretar isso? Francamente, Castiel Chase.

    O dito cujo ri, passa um braço por meus ombros e beija minha bochecha. Eu sei qual é a senha do celular dele e poderia muito bem acessá-lo para descobrir tudo; Castiel tem sorte por eu respeitar sua privacidade.

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