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[ 12 de outubro, sábado ]

— Entra — respondo. Eu devia deixá-lo na varanda mesmo, mas ele está molhado e está frio, e não quero levar a culpa, caso ele pegue pneumonia e morra. — Você está criando uma poça na minha sala.

— É que está chovendo pra caramba e eu piloto uma moto, sabe? — Castiel retruca, tirando as madeixas encharcadas do rosto. — Por que está de muletas?

— Você se importa?

— Sim, na verdade — seu tom é irritadiço. — Será que podemos conversar como dois adultos, pelo menos uma vez na vida? Eu acabei de dirigir debaixo da porra de um temporal por sua causa e não recebi nem um obrigado.

E a raiva está de volta. Quem esse garoto pensa que é, afinal? O salvador da pátria? Até parece que eu devo qualquer coisa a ele depois da forma que fui tratada. 

— Quer que eu seja gentil depois da forma que tem me tratado nos últimos dias? Só pode estar brincando! 

— Da forma que te tratei? Eu nem falei contigo.

— Exatamente! — esbravejo, exasperada, então fecho os olhos e respiro fundo. Preciso me acalmar. Ainda nem saímos da porta e já estamos brigando. — É melhor você trocar de roupa, ou vai pegar um resfriado. Pode tomar um banho quente, se quiser. 

— Valeu. Onde fica o banheiro?

— Lá em cima.

Me viro para subir as escadas, mas não sei como fazer isso. Meu pai e Lysandre me carregaram para cima e para baixo quando precisei me locomover de um andar pro outro, e a escuridão não ajuda em nada. Estou considerando largar as muletas e subir pulando num pé só quando Castiel me toma em seus braços. A água gelada penetra minhas roupas, me arrepiando da cabeça aos pés. Uma reclamação se forma na ponta da minha língua, mas fico calada porque não conseguiria subir sozinha. 

Murmuro um agradecimento quando alcançamos o topo da escada, então Castiel vai para o banheiro enquanto me dirijo até o quarto dos meus pais para procurar alguma roupa seca que ele possa usar. Preciso encontrar algo cujo a ausência não seja notada, porque o papai não ficaria nada feliz se descobrisse que Castiel esteve aqui e ainda usou as roupas dele. Após pegar uma calça e uma camiseta velhas, vou para o meu quarto e me sento na cama. Essas malditas muletas estão fazendo meus braços doerem. 

— Greene? — ouço Castiel chamar do corredor.

— Aqui! 

Dois segundos depois ele aparece na porta com uma toalha em volta da cintura e suas roupas molhadas nas mãos. A única iluminação no ambiente é a luz fraca do poste que passa pela janela, mas tenho uma boa visão do ruivo mesmo assim. Seu corpo é esguio, o abdômen é levemente definido e a clavícula é bem marcada. Tudo isso combinado com seu cabelo molhado é um tanto quanto… sexy. Coro com esse pensamento. Uma gota de água desliza por seu torso e eu a sigo inconscientemente com os olhos, até chegar na toalha e eu me tocar de que tem um garoto nú no meu quarto.

— Gosta do que vê? — Castiel pergunta com um leve sorriso zombeteiro. 

— Não seja idiota — bufo. — Peguei umas roupas do meu pai pra você. 

— Valeu — ele chega mais perto para analisar as peças sobre a cama. — Não tem uma cueca?

— Não vou te dar uma cueca do meu pai. Seria estranho.

— Seria. Vou me trocar e já volto.

Aproveito que fico sozinha no quarto para trocar de roupa também, já que Castiel molhou a que estou usando. Vasculho o guarda-roupas em busca de outro pijama; consigo trocar de blusa facilmente, mas a calça é mais complicado. Estou terminando de me vestir quando Castiel retorna.