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[ 14 de outubro, segunda-feira ]





Me reviro na cama enquanto folhas batem na janela ocasionalmente, a cabeça cheia demais para conseguir dormir mais um pouco. Mais de vinte e quatro horas se passaram desde os acontecimentos inesperados de sábado e ainda não consegui assimilar tudo. Quer dizer, como eu poderia? Castiel Chase — O Castiel Chase —, o garoto com quem venho tendo uma pseudo amizade desde a quinta série, se declarou para mim do nada e depois me beijou. E como se isso já não fosse totalmente absurdo, eu quis ser beijada por ele, assim como quando estávamos levemente embriagados. 

Foi tudo tão repentino que sequer sei o que pensar. A única coisa clara na minha mente é que eu gostei — não que eu vá admitir isso em voz alta. Ainda sou capaz de sentir o toque dos lábios de Castiel, sua língua deslizando sobre a minha suavemente, suas mãos firmes e gentis segurando meu rosto e minha cintura. Também posso ouvir sua voz rouca e baixa ecoar em meu interior; eu não consigo parar de pensar em como seria te beijar desde aquela manhã. Me mexo na cama outra vez, passando as mãos pelas bochechas quentes.  

Por que estou pensando tanto nisso? Foi só uma coisa de momento, eu nem sinto nada pelo Castiel. Por mais que eu tenha plena consciência de que nunca vai rolar nada com o Lysandre, é dele que eu gosto. Repito isso em silêncio algumas vezes, mas a incerteza não vai embora. 

Talvez eu esteja com medo. Eu nunca experienciei um romance antes; nunca tive alguém abertamente interessado em mim. Nunca andei de mãos dadas, nem fui a encontros. Nunca troquei beijos entre as aulas, nem bilhetinhos com declarações bregas e também nunca apresentei ninguém para a minha família. O mais próximo que já cheguei de passar por essas coisas foi lendo ou assistindo filmes, e talvez seja exatamente por isso que me agarro ao que sinto pelo Lysandre. Saber que nunca seremos mais que amigos significa que não precisarei sair da minha zona de conforto, que não precisarei arriscar nada. 

Acho que sou uma grande covarde. Que vergonha. Não estou dizendo que os sentimentos que Castiel tem por mim são recíprocos, mas eu poderia viver um romance de verdade com ele se eu quisesse, e isso me deixa nervosa. E se tudo der errado? Por mais que o ruivo me tire do sério como ninguém mais nesse mundo é capaz de fazer, eu me sentiria péssima de ferisse os sentimentos dele. Castiel é a única pessoa com quem consigo conversar direito, embora a maior parte das nossas interações seja baseada em insultos, e eu não gostaria de perder isso. Sem falar no meu pai. Ele nunca permitiria que eu me envolvesse com Castiel, nunca.

Não que eu esteja considerando isso. Eu nem sinto nada por ele.

De repente, sou tirada do turbilhão de pensamentos pelo toque alto do despertador. Esqueci de desligar essa droga. Ainda não consigo pisar direito no chão, embora a dor tenha diminuído um pouco, então não vou para a escola hoje. Mesmo assim, pego as muletas ao lado da cama e saio do quarto. A luz do quarto da minha irmã está acesa e ela está trocando de roupa quando chego lá.

— Bom dia, maninha — ela diz, virando de um lado pro outro na frente do espelho. — Acha que vou passar frio se sair com essa blusa?

— Não, se levar um casaco.

— Por que já está acordada? Não está pensando em ir pra escola, está? Você tem um atestado de cinco dias, não pode desperdiçar isso! 

— Não, meu tornozelo ainda não me deixa andar. Mas você vai, então preciso que me ajude a descer as escadas antes de sair. 

— Ah, claro, sem problemas. Eu queria ficar em casa também, mas infelizmente não posso — ela faz um biquinho. — Minha escola vai dar uma festa de halloween e aquelas garotas do comitê de decoração não conseguem dar um passo sem mim. Não posso culpá-las; meu gosto para festas é impecável. 

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