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[ 06 de janeiro, quinta-feira ]

Talvez seja loucura, mas estou mesmo pensando na proposta de Castiel. Na verdade, mal consegui dormir por causa dela — não que seja a primeira vez que Castiel Chase me faz perder o sono. Sei que vou ter que conversar com meus pais sobre essa ideia em algum momento, porque eles são adultos e podem me ajudar a medir os prós e os contras, mas vou esperar para fazer isso. Eles acabaram de liberar nosso namoro; se acharem que posso fazer as malas e sair de casa imprudentemente a qualquer minuto, com certeza vão surtar e proibir tudo outra vez.

Não, é melhor dar tempo ao tempo e deixar que eles vejam que Castiel não é tão ruim quanto parece.

— Woah, cuidado aí! — Keith exclama quando quase nos trombamos. Se ele não soubesse equilibrar bandejas tão bem quanto toca bateria, vários pratos teriam se espatifado.

— Desculpa, estou meio aérea. Não consegui dormir direito.

— Teve pesadelos?

— Não. Fiquei pensando numa proposta que Castiel me fez.

— Tá, pode parar por aí. Não quero que corrompa minha inocência com suas indecências.

— Não é nada disso, seu manézão — empurro seu ombro.

Dou uma olhada pela cafeteria. Os poucos fregueses presentes já foram atendidos e, se as nuvens escuras e o vento forte forem algum indicativo, acredito que nenhum outro chegará tão cedo. Decido que é uma boa hora para uma pausa e um chocolate-quente. Sigo para trás do balcão, onde a máquina de chocolate está posicionada ao lado da de café, e Keith vem atrás da mim.

— Você parece bastante pensativa — ele constata. — Deve ter sido uma proposta importante. Não me diga que... Ele não te pediu em casamento, né?

— Não! — me viro em um sobressalto. — Bom, não exatamente...

— Não exatamente? O que isso significa?

Respiro fundo. Eu gostaria da opinião de um adulto sobre essa situação, e Keith é um adulto — aos olhos da lei, pelo menos. E ele conhece o Castiel, o que já é uma vantagem. Também tem o Leigh, é claro. Ele não conhece o Castiel tão bem, mas, por outro lado, saiu da casa dos pais e tem responsabilidades muito mais sérias. Leigh provavelmente teria uma visão mais sensata sobre tudo.

— Você já morou com alguém que não seja sua mãe?

— Não até o momento. Por que a pergunta?

Penso em continuar, mas desisto. Eu confio muito no Keith, mas não quero falar muito sobre morar com Castiel antes de tomar uma decisão. Sei que todos terão uma opinião diferente sobre esse assunto, e tenho medo de não conseguir decidir por mim mesma caso ouça a todos tão cedo. É por isso que decido conversar apenas com Leigh por enquanto.

— Por nada — digo por fim. — Quer um chocolate-quente?

Keith estreita os olhos com desconfiança, mas não insiste. É por isso que nos tornamos amigos — respeitamos os limites um do outro. Preparo duas canecas fumegantes de chocolate com canela e mini marshmallows, e nós nos acomodamos nos bancos do balcão para beber. Eu lhe pergunto sobre a banda e outras coisas para dissipar a tensão, o que parece funcionar muito bem.

Lá pelas cinco horas, como já era de se esperar, está chovendo um bocado. É assim que o inverno funciona nessa cidade — frio e chuva sem parar. É um ótimo clima, mas também dá muita preguiça. De repente, a porta da lanchonete se abre com força, chamando nossa atenção. Lysandre está parado no tapete de boas-vindas, encharcado da cabeça aos pés, sustentando a expressão mais determinada que já vi em seu rosto. Ele tem estado bastante pensativo desde o réveillon e parece ter tomado uma decisão sobre seja lá o que o estivesse perturbando.