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[ 14 de fevereiro, segunda-feira ]





  A última semana foi maravilhosa. Castiel e eu almoçamos juntos todos os dias, ele foi ao Hummingbird, eu fui aos ensaios da banda, nós assistimos filmes no apartamento e, pasmem!, comemos pizza com Leigh e Lysandre e ele não foi grosseiro nem uma vez sequer — embora também não tenha sido exatamente amigável. Ao contrário do que pensei, foi bem fácil superar a estranheza. Estarmos juntos é tão natural e familiar, que é quase como se nunca tivessemos nos separado. 

  Todos ao meu redor disseram que pareço mais feliz; até mesmo o papai teve que reconhecer isso. Minha aparência também melhorou, visto que voltei a comer e a dormir normalmente. Ainda não recuperei os quilos perdidos e as olheiras não sumiram totalmente, mas são coisas que levam tempo. 

  Castiel também parece bem melhor, no geral. Seu anel do humor, que notei estar preto nas vezes em que nos vimos enquanto ainda estávamos na fase do luto, agora está mais colorido. 

  O dia de hoje, por outro lado, será torturante. O motivo? É dia de São Valentim; ou dia dos namorados, para quem preferir. Mais uma vez passarei a data solteira, fazendo caretas discretamente enojadas para todo o amor e felicidade no ar, mas dessa vez é pior. Até meus pais estão soltando corações pelos ouvidos. O papai já começou o dia dando um buquê de rosas vermelhas para a mamãe, e ela fez panquecas no formato de coração. Os dois vão sair para jantar essa noite e depois provavelmente vão transar, enquanto eu penso que poderia estar fazendo o mesmo se tudo não tivesse desandado. 

  E as coisas não melhoram na escola. É tradição decorar tudo com corações e faixas e flores, e alguns alunos sempre trocam cartões — mesmo que não estejam mesmo namorando. Tem até um garoto vestido de Cupido esse ano, entregando recadinhos anônimos. Estamos apenas na segunda aula e Lysandre já recebeu quinze desses, contendo confissões tímidas e cantadas impuras. Ele parece encantado e envergonhado com toda a atenção, como se nunca tivesse notado o quanto é querido. 

  Eu recebi um recadinho também, uma única frase no meio do cartão de cartolina vermelha em formato de coração: Perdi meu número, posso ter o seu? ♡. Não reconheci a caligrafia e ninguém se pronunciou, então apenas o guardei na mochila. É meio que uma surpresa saber que chamei a atenção de mais alguém nessa escola. Confesso com certa vergonha que esperei receber algo do Castiel, mas isso não acontece. Não sei o que estava pensando; não somos mais namorados, afinal. Não mando nenhum recado. 

  Passo reto por todos os garotos e garotas que estão exibindo seus recadinhos para os amigos. Alguns parecem orgulhosos e outros, feliz e apaixonados. A regra do Cupido é que todos os bilhetes devem ser anônimos, mesmo que o remetente queira ter a identidade revelada, então muita gente também tenta descobrir quem são seus admiradores secretos. Não tento descobrir quem é o meu; só quero entrar logo na fila do refeitório. Porém meus planos são deixados de lado quando abro o armário e encontro um cartão branco e retangular, acompanhado de uma rosa amarela. 

  Castiel. 

  Meu coração está acelerado enquanto pego a flor e o pequeno pedaço de papel. Gravado nele estão as palavras: 

 Gravado nele estão as palavras: 

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