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[ 12 de outubro, sábado ]




São mais ou menos nove horas da noite quando os trovões altos começam e a chuva, que está caindo desde às seis e pouco, passa a se derramar com mais intensidade. Gotas gordas e pesadas atingem as janelas e o telhado com um barulho alto que, combinado com o estrondo dos trovões, faz meu coração bater ligeiramente mais depressa. Não tenho medo de tempestades, embora elas me deixem um pouco desconfortável, e é só quando as luzes começam a piscar que me arrependo de ter concordado tão rápido quando Ariana perguntou se eu ficaria bem sozinha por algumas horas. 

Tempestades não me assustam, mas o escuro — e principalmente as coisas que posso encontrar nele — sim, e muito. O brilho azulado de um raio atravessa a janela e as cortinas, sendo seguido de perto por um trovão tão forte que faz o chão tremer. As luzes voltam a piscar, a imagem na televisão trava e meu coração ameaça pular para fora do peito. Me estico para pegar meu celular e disco o número da minha irmã, mas a ligação vai para a caixa postal. Com Lysandre é a mesma coisa. Eu devia saber que isso aconteceria; eles foram pra uma festa ou sei lá o que, então é óbvio que não ouviriam o telefone tocar.

O que farei, agora? Não posso dirigir e, mesmo se pudesse, não teria para onde ir. Respiro fundo e tento me acalmar. Está tudo bem, tudo bem… Nada de ruim vai acontecer. A tv volta a funcionar, só para travar novamente no segundo seguinte. A energia se estabiliza por um tempo, entretanto o medo não me abandona. Rodo pela minha lista de contato, decidida a fazer mais uma tentativa. Keith atende no segundo toque.

— Ari? Mas que surpresa agradável! — ele grita para que eu possa escutá-lo por cima do barulho alto que soa ao fundo. — Tudo bem? Está precisando de alguma coisa? Não posso falar muito, minha banda vai se apresentar em dois minutos. 

— Tudo bem — respondo, engolindo o pedido de socorro que estava pronta pra fazer. — Eu estava meio entediada e resolvi ligar pra gente conversar um pouco, só isso. 

— Puxa, sinto muito por não poder te dar atenção agora. Mas prometo que te mando mensagem quando chegar em casa, pode ser? 

— Claro… Bom show pra vocês.

— Valeu, Arianinha! 

Solto um suspiro frustrado depois de encerrar a ligação. Parece que todos que conheço estão ocupados com alguma coisa, e eu serei obrigada a lidar com meus medos sozinha. As luzes voltam a piscar, então se apagam de vez. Meu estômago afunda e congelo no lugar, apesar de querer fugir. Ativo a lanterna do celular com mãos trêmulas, mas a luz não é nem de perto forte o suficiente para me tranquilizar. Não posso fazer isso. A energia pode demorar horas para voltar, e eu posso acabar tendo um infarto se tiver que passar por isso sem ninguém para me fazer companhia, além dos demônios que provavelmente estão espreitando nas sombras.

O problema é que só me resta uma pessoa para quem pedir ajuda e, pelo andar da carruagem, é bem possível que minha ligação seja ignorada — propositalmente ou não. Ainda assim, decido arriscar. A chamada está quase indo para a caixa postal quando a pessoa finalmente resolve atender. 

— O que foi? — Castiel pergunta com um misto de impaciência e cansaço, como se eu o estivesse incomodando. O que provavelmente estou fazendo, mas não tenho tempo de esquentar a cabeça com isso agora. 

— Olha, eu sei que as coisas não estão bem entre a gente e que não nos falamos há uma semana, mas está chovendo muito, a energia caiu e eu estou sozinha em casa, no escuro, sem poder ir pra qualquer outro lugar porque torci o pé e não posso dirigir — disparo, deixando todo o desespero que estou sentindo transparecer na minha voz. — Por favor, será que você poderia vir até aqui e me fazer companhia? Só até as luzes voltarem. Por favor.

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