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[ 22 de dezembro, segunda-feira ]

Eu sou azarada desde os primórdios de minha existência e acho que sempre soube disso, mas a primeira vez que tive consciência desse fato foi aos oito anos, quando estávamos no parque e uma gangue de pombos me atacou para tentar roubar meu sanduíche, mesmo que o resto da minha família também estivesse com comida na mão. Desde esse dia, vários pequenos acontecimentos ruins têm acontecido comigo em intervalos de tempo irregulares. 

Teve a caça aos ovos de páscoa quando eu tinha onze anos, onde um dos meus primos caiu em cima do meu e o quebrou. E também o dia em que ficamos sem energia na escola, mas ela voltou a tempo de eu apresentar um seminário que havia esquecido de fazer. E, claro, o episódio mais recente com os ingressos. 

Até então, minha falta de sorte só havia afetado a mim, mas hoje o universo decidiu que isso não era o suficiente e enviou uma chuva torrencial para a nossa cidade, frustrando todo mundo que planejava participar da feira. Fala sério, já não caiu água demais do céu para um outono? Eu adoro chuva e ela não seria um problema hoje se a Feira da Renascença fosse ocorrer em local fechado, o que, é claro, não é o caso. 

Me jogo na cama sem me preocupar em estragar a trança bonita que minha irmã fez no meu cabelo. Não acredito que gastamos oitenta dólares em vestidos por nada. Olhando pelo lado positivo, pelo menos já garanti a fantasia de halloween do ano que vem — e a roupa do baile de formatura, se eu fosse ousada o suficiente. Meus pais tiveram sorte nesse aspecto, já que a roupa que eles iam usar era qualquer coisa que tinha no armário deles que fosse minimamente renascentista. Tipo a camiseta com uma imagem da Mona Lisa que o papai comprou por engano há uns cinco anos; ele a detesta, mas nunca se livra dela. 

— Se anima, maninha — Ariana invade meu quarto, interrompendo minhas lamentações. Levanto a cabeça para olhar para ela. — Nosso feriado está salvo. Lysandre mandou mensagem e disse que o Leigh fará um café da tarde renascentista para nós.

— Café da tarde renascentista? 

— É. A comida vai ser normal, mas nós poderemos usar as fantasias. O que acha? 

Dou uma olhada no relógio. Duas e vinte.

— Tudo bem, pode ser legal. Mas hoje é aniversário do Castiel, então não ficarei muito. 

— Sem problemas! Vou me trocar.

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Eu nunca havia frequentado a casa de Lysandre antes e só a fachada já me deixa impressionada. O edifício é lindo e grande, mas não de forma exagerada. Lysandre é quem abre a porta para nós, já devidamente vestido e bonito como sempre. Esse estilo renascentista realmente combina com ele. 

Assim que adentramos a residência um cheiro delicioso nos atinge, supostamente vindo da cozinha. Ariana caminha pelos cômodos como se morasse aqui, enquanto eu sigo ela e Lysandre um pouco atrás. Todos os lugares pelos quais passamos são bem organizados e elegantemente decorados; inclusive a sala de jantar, que é onde paramos. A mesa está posta com café, leite, suco de laranja, bolo de chocolate e croissants. Impressionante!

— Parece coisa de filme — comento. 

— Meu irmão é meio exagerado. Ele sempre gostou dessas coisas classudas. 

— Não tem nada de errado em gostar de comer em uma mesa bem arrumada — o dito irmão, Leigh, diz entrando na sala. 

E caramba! Ele é provavelmente o homem mais bonito que já vi. Sua presença é imponente, seus passos são firmes e possuem uma elegância quase felina. Seu cabelo é tão preto quanto meu vestido, seus olhos são cor de chumbo e tudo em seu rosto foi perfeitamente desenhado. Uau. Ficar bem em estilos de roupa antigos deve ser coisa de família.