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[ 06 de dezembro, sábado ]

Há pouco tempo as interações quase românticas de Lysandre e Ariana eram um bocado dolorosas, mas agora são apenas um pouco irritantes. Como minha irmã pode não se dar conta de como Lysandre a olha enquanto eles debocham das matérias de uma revista adolescente qualquer? Penso nisso enquanto como alguns cookies recém saídos do forno, observando-os no outro sofá.

— Olha, Ari! — Ana diz, de repente, vindo se sentar ao meu lado. — Aqui tem um teste para saber se você e seu namorado são compatíveis. Quer fazer? 

— Castiel não é meu namorado — esclareço. — E fala baixo! A mamãe está na cozinha. 

— Como ele pode não ser seu namorado? — ela abaixa a revista, um pouco incrédula. — Vocês estão juntos há um tempo. 

— Mas não estamos num relacionamento sério.

— Você sai com outros caras? 

— Claro que não!

— Ele sai com outras garotas? — Lysandre pergunta.

— Não... 

— Você não disse que ele ligou para perguntar se você queria algo do mercado? 

— É, ele ligou — admito devagar, me sentindo como um animal numa armadilha.

— E eu não tive que te ajudar a tirar ele daqui, hoje de manhã? — dessa vez seu sorriso é insinuante.

Desvio o olhar, envergonhada.

— Comportamento doméstico — Ariana sorri. Ela e Lysandre trocam um olhar e dizem em uníssono: — Namorados.

— Só que nunca houve um pedido de namoro, então vocês estão errados — retruco teimosamente. — Agora, com licença, vou pegar um copo de leite. 

Mas que duplinha irritante! O que eles sabem sobre essas coisas? Minha irmã nunca teve um relacionamento sério na vida, e Lysandre... bom, eu não sei. Mas não importa. Qual o problema de não sairmos com outras pessoas? Castiel e eu só estamos saindo há pouco mais de um mês, não é tempo o suficiente para iniciar uma relação séria. Nós nem tocamos nesse assunto ainda, para falar a verdade, e não temos pressa. As coisas estão boas como estão. 

Para evitar continuar tal assunto, decido sair um pouco de casa. A Crownstorm — novo nome da Fish n' Chips — está ensaiando na garagem do Keith nesse momento, segundo Castiel, então decido ir para lá. Eu nunca havia sido convidada para um ensaio da banda, mas tenho esse privilégio já que o novo vocalista é meu... sei lá. Antes de ir para o endereço indicado na mensagem que o ruivo mandou, paro para comprar salgadinhos e refrigerante para que os garotos comam no intervalo.

Não é difícil encontrar a residência de Keith porque a música é perfeitamente audível no bairro todo. Se não fosse três e meia da tarde de um sábado, aposto que algum vizinho já teria chamado a polícia. Toco a campainha três vezes, mas ninguém escuta, então dou a volta na casa e descubro que o portão da garagem está levantado. Eles não interrompem a música quando me vêem, mas Keith sorri e Castiel dá uma piscadela. Aplaudo quando a canção chega ao fim. 

— Não achei que fosse aparecer — Castiel diz, se aproximando para me dar um beijo rápido. — E com sacolas.

— Não queria aparecer de mãos abanando, então trouxe um lanchinho.

— E é por isso que você é a minha garota preferida — Keith anuncia, saindo de trás da bateria. — Fico feliz que tenha vindo. Não podíamos chamar pessoas para assistir o ensaio quando Eric estava conosco. Aliás, esses são Mark e Jake; acredito que não tenham sido apresentados.

Mark é ruivo — ruivo de verdade, não como Castiel —, magro e baixo em comparação aos outros, embora ainda seja mais alto que eu. Jake tem a cabeça coberta por cachos escuros e sua pele é de um marrom claro muito bonito, como o Corbin Bleu. Eu não reparei neles na festa de halloween, provavelmente porque estava distraída demais com o showzinho de Castiel, mas os dois são bonitos. Ambos me cumprimentam com um sorriso simpático antes de Keith pedir que o ajudem a levar as sacolas para dentro. 

— Um loiro, um moreno, um ruivo laranja e um ruivo vermelho. Vocês são um grupo bem colorido.

— Lutamos em prol da representatividade de todas as cores de cabelo, para que ninguém se sinta excluído — Castiel diz com uma expressão séria, colocando a mão no peito. 

— Uma causa nobre. Fico orgulhosa. 

Os garotos ensaiam por mais meia hora antes de fazerem uma pausa para o lanche, e eu aplaudo no final de cada música. Fico cada vez mais e mais impressionada enquanto observo Castiel cantar. Sua presença de palco é fantástica, mesmo que estejamos em uma garagem, como se ele já tivesse nascido com as habilidades de um rockstar. Os outros três também são ótimos, mas não consigo afastar os olhos de Castiel; a forma como ele coloca o cabelo úmido de suor para trás, as veias proeminentes em seu pescoço, a forma como as gotas salgadas da transpiração deslizam por sua pele por conta do esforço. Me ajeito na poltrona inflável que me foi concedida, tentando não pensar em como ele parece estupidamente atraente agora. 

Quando o ensaio finalmente chega ao fim, depois de duas horas, nós vamos para a sala de estar e devoramos os salgadinhos que eu trouxe em meio a vários assuntos. Mark e Jake são tão legais quanto aparentam ser, e descubro que Jake estudou na mesma escola que Castiel e eu há seis anos. A tarde é tão divertida e agradável que as horas passam sem que notemos. São quase oito da noite quando Castiel nos despedimos dos outros e vamos embora.

                                        °

— O que achou do ensaio? — Castiel pergunta quando chegamos ao seu apartamento, deixando as chaves e a carteira na mesinha de centro. 

— Eu adorei! Vocês são super talentosos. Mas acho que não conheço nenhuma das músicas que tocaram. 

— É porque são originais. Algumas são minhas, outras são deles. 

Fico impressionada outra vez. Sei que todos os tipos de talento são admiráveis, mas pessoas que sabem compôr músicas e escrever livros e poesias são excepcionais. Nunca levei o menor jeito para essas coisas, é por isso me limito a escutar e ler. Me aproximo de Castiel com passos vagarosos e cruzo as mãos em sua nuca, sorrindo. Ele coloca uma mão na minha cintura, assumindo uma expressão desconfiada.

— Você estava muito gato no ensaio, sabia? — elogio. E depois, parafraseando Patrick Verona, continuo: — Eu já te observava antes e nunca te vi tão sexy. 

— Sexy, é? — ele sorri maliciosamente, capturando meu lábio inferior entre os dentes em uma mordida sensual. — Vou tomar um banho agora, quer vir comigo? Talvez eu fique ainda mais sexy.

Meu rosto queima, assim como o resto do meu corpo. Eu não sei se sua oferta é real ou se ele só está me provocando, mas fico tão sem jeito que a única coisa que sai da minha boca é um gaguejo sem sentido. Castiel joga a cabeça para trás, gargalhando, e se afasta de mim. Ele some mais para dentro do apartamento, me deixando sozinha, atônita e ainda um pouco quente. 

Ai, meu Deus!